E lá iam os dois amigos. Eram meninos, ainda adolescentes. Cada um trazia consigo o escrito da noite anterior. Um deles disse ao outro:
- Desta aqui, ela vai gostar.
- Não foi exatamente para ela que eu escrevi.
- Ora, deixe de bobagens.
E chegaram ao colégio. O ensino era dado a ambos os sexos. Claro, havia regras de comportamento. Para as meninas e para os meninos. E era um colégio católico. Disciplina mais severa ainda. Eles entraram na sala de aulas. E os colegas disseram:
- Lá vem os dois poetas!
Eles sorriram satisfeitos. E mostraram seus poemas cada um para a preferida deles. Elas lhes sorriram, e só. Mas, como caminho para o reconhecimento era muito. Contentes com o resultado, sentaram-se. E viria o dia seguinte. Depois da aula, foram para a biblioteca. Procuraram nas estantes autores que lhes satisfizessem. E assim ia a formação dos dois poetas. Até que eu disse:
- Eu estou é descobrindo a poesia.
- A poesia nós é que fazemos.
- Pretensão sua, olhe quantos poetas há nas estantes!
- Sabe. você tem razão! Vou ler mais.
Era a descoberta verdadeira da poesia. E nunca mais escreveram para as meninas. Até que uma delas, certo dia, os pararam e perguntou a eles:
- Não escrevem mais?
- Para simplesmente mostrar, não.
- Então, escrevem para que?
- Para nós mesmos.
- Isto não faz sentido.
- Uma editora nos convidou, não sabemos como souberam de nós poetas.
- Então melhorou, eu vou querer ver quando publicado.
- Olha, querida, vá a uma livraria...
- Poeta fica rico?
- Isso não sabemos.
- Eu que não vou me casar com poeta.
- Ora, sua tolinha, um poema nunca matou a fome de ninguém.
- Enjoados.
E os dois sairam se rindo. E do riso, nasceu um poema.