eu os vejo tentando
adorando minha doce face,
achando minhas risadinhas
e cantorias,
a coisa mais preciosa,
notando cada cacho
que reluz com as luzes
da rua, à noite.
eu os vejo
tentando, tentando,
todo dia, um bom dia
diferentemente
bem intencionado
e assuntos intermináveis...
e então, viciam
no meu beijo,
no meu cheiro,
no meu abraço,
e então,
quando me colocam
na solidão de um pedestal
eu desabo...
e então,
quando as piadas
sarcásticas e melancólicas
começam a se tornar
recorrentes,
eu pouco a pouco,
me calo
e me afasto
consigo notar
o quão apaixonante sou,
o quanto de vida
tenho a oferecer,
o quanto de amor
posso compartilhar.
mas, quando eles tocam
meu rosto
e se aprofundam
no verde do meu olhar,
eu sinto um nó.
quando de repente,
se esquecem
de tudo o que eu disse
e de como eu
almejo ficar só,
então me lembro
de que a paixão fogosa,
a excitação,
a emoção de me ver,
duram apenas nos primeiros dias
se arrastam por uns meses,
e depois,
tudo que vem depois,
vira motivo de dor.
quem eu sou
quando não tento ser sociável?
quem eu sou
quando estou trancada no quarto?
quem eu sou
rodopiando com meus profanos
pensamentos intoleráveis?
eles ainda não sabem,
mas vão odiar saber.
quem eu sou
quando me sinto plenamente
linda, feminina, poderosa, observadora
e desgraçadamente livre demais
para me esforçar um terço
do que antes eu me esforçava?
quem eu sou
quando amo estar
com um deles esta noite
e na próxima, já não sinto mais nada?
quem eu sou
quando deixo tantas
e tantas mensagens
não visualizadas?
"é a correria"
eu digo,
mas geralmente,
nunca é tudo,
e sempre é nada.
"é que estou menstruada",
disse pela oitava vez
na semana,
só para escapar de mais uma
romântica e sensual presepada
isso é feio demais para se dizer
em uma poesia desestruturada?
"vagabunda",
alguns podem concluir,
mas se fosse um homem dizendo,
não seria nem julgado.
antes era eu,
que cedo demais me encantava,
mas quando aprendi os passos
da dança macabra,
quando tirei
as lentes cor-de-rosa,
quando percebi o estilo
do jogo truculento de interesses,
quando vi que é sempre assim,
então automaticamente me vi
não conseguindo sentir
nada mais que a insípida realidade.
hoje eu quero,
amanhã não,
e talvez nunca mais...
eu queria há alguns segundos,
e de repente,
um comentário despretensioso,
faz minha sede secar
"vou dormir",
acabo por digitar.
e eu queria, e eu disse que queria tanto
e posso mesmo ter te esquentado,
mas juro, não era nada demais.
não sou nada demais,
só uma mulher decidida
a não ser a vítima
de mais nenhum
relacionamento quase fatal.
é que é um frio abissal
lá do alto do pedestal,
onde tenho que ser
o reflexo da sua intenção,
o perpetuar da sua paixão,
a que só ri, só goza,
só tem conversas sobre
coisas gostosas,
a que só se veste bem
e se perfuma,
e faz as unhas,
e ouve suas merdas caladinha...
funcionava, quando
eu era mais novinha,
funcionava, para eles,
mas nunca funcionou
pra mim.
eu sou tantas, tantas coisas,
e amo desbravar
todos os sentidos
da solidão e da loucura,
que se você se aprofundasse
só um pouco,
já seria demais pra você.
ninguém pode me consertar
além de mim,
ninguém pode me amar tanto
além de mim,
ninguém pode me compreender,
entender meu rimar
sem meus versos temer,
além de mim.
e eu lutei muito para ser assim,
chorei muito até
conseguir pacificamente morar
dentro de mim,
sei cada uma de minhas
genuínas mazelas,
sei onde cada medo
e ódio se esconde
entre as vielas do meu ser...
eu sozinha
conquistei minha solitude
não espere que eu mude.
eu não sou mulher pra você
pois estou ocupada,
sendo a dos meus
sonhos.