Ramificações de um Poeta (Terminado)
Lobo Negro Johny
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 10/01/24 03:39
Editado: 07/04/24 14:51
Qtd. de Capítulos: 9
Cap. Postado: 10/01/24 03:39
Cap. Editado: 10/01/24 14:07
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Não recomendado para menores de doze anos
Ramificações de um Poeta
Capítulo 1 Ato I

Ato I

I

Eu nunca quis ser um viajante do tempo, isso era apenas um tipo de identificação entre os alunos, uma forma dos mestres definirem que nós éramos. Viajante do tempo veio com a alcunha de que eu e tinha um amor esquecido já pela sociedade. Mas eles faziam questão de ensinar isso para nós, alunos. Mas eles me disseram isso pela minha escrita poética que parecia ser semelhante as cantigas de amor do século XI até o século XIII. Fui escolhido para uma escola de poesias com o ideal de mudar o mundo através das poesias. Viajante do tempo batia da forma com a minha característica e meus princípios, além de combinar com minha personalidade e meus gostos pessoais.

As regras eram simples:

- Usar a poesia apenas pregar amo;

- Nunca usar a poesia para ganhos egoístas;

- Se não falar de amor, deve criar uma reflexão para libertar mentes não as prender;

- É extremamente proibido usar sexo e palavras de baixo calão;

- O amor deve ser prioritário;

- A poesia deve sempre ser pura e repleto de sentimentos;

- Não esquecer da razão, para que não venha ser subjugada pela emoção;

- Extremamente proibido usar a poesia para ofender, destruir, e difamar;

- A poesia é pura e deve ser assim;

- Ao se relacionar com amor, proibido trair a quem ama, se assim fizer será expulso e mostra que não ama.;

- Poesia e política não se misturam (a política deve sempre de qualquer forma ser vista de forma crítica e totalmente racional, sentimentos não devem fazer parte de tal);

- Qualquer um que desobedecer tais regras será expulso.

Éramos obrigados a decorar essas regras, e essas regras valeriam para nós ao sair da academia, e iriam definir como poderíamos o mudar o mundo. Cada aluno tinha uma identificação, havia Coração de papel, Camponês, Ultrarromântico. E vários outros que atendiam suas características de escrita com personalidade. Estes eram meus amigos, e estávamos prestes a ser enviados ao mundo. Essa academia, era nosso lar, os professores eram a família, os alunos irmãos.

Meu nome é Elliot, e eu sou o viajante do tempo, estou para terminar meu tempo na academia e conhecer o mundo, e fazer a diferença com minhas poesias

“O mundo aguarda

Sei o que meu coração guarda

Uma enorme vontade de amar

Como serei recebido?

Como é ser amado?

Como receberão meus versos?

Serei reconhecido?

Anseio e temo

Mas minha vontade de amar

É maior que meu temor

Viajante do Tempo”

Não temos muito contato com o mundo, ou com as pessoas. Nos feriados e férias, podemos ir à cidade, conhecer pessoas, garotas. O interessante é que meus colegas, eles se davam bem, talvez por nunca terem se importado com as regras da academia, e nunca entendi como conseguiam ser tão seguros, ou não se importarem com as consequências.

Os princípios são formas de nos diferenciarmos das coisas horríveis que muitas pessoas são. Quando aprendemos sobre o prazer, ele dever ser um meio para demonstrar amor, e o amor nunca deveria ser usado de tal forma.

Eu passava esses tempos sempre em dúvida de quem eu realmente era, se havia algo de errado comigo, se as regras da academia eram prisões ou realmente necessárias. A dúvida sobre mim, sobre minha aparência alta, e ser magro demais. Ser completamente tímido enquanto meus amigos eram desenvoltos, e já tinham se relacionado com garotas incrivelmente lindas, enquanto eu mal conseguia falar com elas. Em uma certa ocasião nos feriados de fim de ano, uma garota que eu gostava mandou a amiga perguntar se gostaria de “dar uns amasso”, eu com relutância disse não, e disse que não a conhecia bem para isso. Eu só sabia o nome dela. Eu era extremamente romântico, ou completamente idiota. Sempre pensei que tais atos deveriam significar alguma coisa além de vontades carnais. Em compensação tentei conhecer ela e conquista-la através de poesia; nada foi tão frustrante e insignificante quanto ter meus versos serem entregues e não haver nenhum tipo de retorno sem ser os colegas dela rirem de mim, ou as amigas elogiarem meu talento sem ter nenhum tipo de interesse por mim, ou o amor daquela no qual estava cegamente apaixonado. Isso aconteceu quando eu tinha 16 anos.

Eu sofri o que tinha que sofrer com aquilo, gerando mais versos até que as férias acabassem e voltássemos para a Academia/Orfanato preparatório de escritores.

Eu estava com 18 anos já, e prestes a sair da Academia, era uma mansão com oito quartos por andar, todo andar havia quatro banheiros, e haviam vários quadros de artistas famosos, alguns de professores importantes, fundadores. O diretor e alguns professores dormiam no último andar, que era o quarto, e os alunos no terceiro, com um supervisor, minha turma era a dos veteranos, e seria a última a se formar como estudante, pois a partir do próximo ano a academia preparatória de poesia e orfanato, seria apenas um orfanato, as crianças e outros rapazes iriam para escolas da cidade, mas continuariam a morar lá. Nas últimas semanas em plena segunda-feira, após as aulas finais, decidi ir conversar com um professor que gostava muito, um grande fã de minhas poesias. Fui até o segundo andar onde ficava a sala de jantar e a cozinha no lado direito, já no lado esquerdo ficava a enorme biblioteca e sala de entretenimento. Ele estava na cozinha, sentado em um balcão, a cozinha tinha uma combinação de branco e azul, azulejos com detalhes de cozinha, e os armários de madeira, embora fossem antigos, eram lindos e bem envernizados. Professor Marcos era careca, alto e usava óculos de grau retro, tinha entre seus 1,80 e talvez pesasse entre seus 80 a 85 Kg. Ele estava bebendo cerveja, algo que era comum pois ele morava lá no orfanato, ao me ver ele já soltou a frase que sempre dizia ao falar comigo:

­­— Falaaa Eliiot! — Me aproximei e nos abraçamos, e sentei ao lado dele, ele me ofereceu cerveja, afinal eu já tinha 18 anos, e ele era o professor legal para todos.

— E então Mestre, como está lidando com o fim das aulas no orfanato? Afinal dar aula sempre foi sua paixão.

— Eu vou ficar bem, creio que você deve estar pior que eu, é o fim daquilo que conhece, e o desconhecido sempre assusta, já pensou no que quer fazer da vida? Além de ser escritor, óbvio, é um longo caminho até ser reconhecido. — Disse para mim olhando com o canto do olho enquanto trazia a garrafa de cerveja perto da boca para mais um gole.

— Eu sei disso. — Respondi revirando meus olhos por ele ressaltar o óbvio, e fazendo uma pequena careta entortando minha boca para o lado esquerdo. — Eu penso em ser professor como você.

— A sua cara ensinar, e você poderá fazer um bem muito grande, mas me preocupo.

— Qual o motivo de sua preocupação, Mestre? — Perguntei com um olhar confuso.

— Você logo irá perceber que o mundo é bem diferente, e muito mais cruel que já viu. — Disse Olhando para o balcão com um olhar triste.

— Mas eu sei como é, eu vi coisas ruins nos tempos de férias, na cidade. — Falei tentando manter um certo otimismo, mas acabou ficando mais entristecido.

— Vocês e seus colegas só viveram um pouco, e mesmo que fosse bastante, ainda retornavam para cá, aqui e o lar de vocês, após se formarem, para onde correrão? Terão que criar o próprio lar isso vai demorar.

— Talvez seja até melhor, muita das coisas ruins que eu vi, foram feitas pelos meus colegas daqui. Eles quebraram a regra várias vezes Mestre, e pensei em contar....

— Mas não queria perder a amizade deles, ou ser o dedo duro, eu sei. — Ele me interrompeu e passou a sentar de frente para mim.

— Eu, e todos os outros daqui sabíamos o que eles faziam....

— Então por que não fizeram nada?! Eles quebraram as regras!! — Exclamei chocado e nervoso ao mesmo tempo.

— O que iríamos fazer? Expulsá-los do orfanato? Eles não têm família, se os colocássemos para a rua, deixaríamos que os errados deles mudassem o nosso certo, e não são bem regras, são mais princípios que gostaríamos que seguissem. — Ele explicou mexendo a cabeça para os lados para que eu demonstrasse que não era rígido, mas sim algo flexível.

— Mas.... Eu segui... Eu deixei de....

— Eu sei, nós sabemos e nos orgulhamos de você. Mas para você, é mais que regras, isso está em você, faz parte de você, por isso nunca quebrou.

— Ou talvez eu tinha medo e poderia ter feito o mesmo que eles. — Respondi com raiva!

— Poderia, mas sabe tão bem quanto eu que não é a mesma coisa, você não é como eles e tão pouco quer ser como, você é um romântico, algo que vem se perdendo nas pessoas. — Respondeu sorrindo, e por mais que tivesse razão, eu ainda queria demonstrar minha raiva. Ele continuou. — Como é a formação da pessoa? Podemos ensinar uma criança, mas a natureza da pessoa talvez faça com que não se importe e jogue tudo que foi ensinado no lixo, se tornando assim uma pessoa relativamente má, como uma pessoa sem formação alguma é má e egoísta até passar por situações que a farão repensar suas atitudes e pode se tornar uma pessoa boa. Nós mostramos o caminho, o que julgamos ser certo, através do que aprendemos e vivenciamos como professores, e pessoas mais velhas, mas quem irá trilhar o caminho é vocês.

— Mas eu poderia ter trilhado outro caminho!! — Falei alterado.

— E não fez, se realmente quisesse teria feito, e pior, teria se arrependido, como eles se arrependem. — A resposta foi calma e cortante para mim.

— Eles nunca vão admitir que não se sentiram bem depois, e para você não era uma regra, é quem você é! — Eu quis rebater, mas no momento a raiva que eu sentia era pelo fato de ele estar certo. — Elliot, o que define uma boa pessoa? Pais ensinam filhos o que é certo, tiveram boa educação e muitos ainda caminham de forma errada na vida de forma egoísta, ou até criminosa, ensinamos vocês, mas quem vai definir se vai ser uma boa pessoa e fazer o que é certo é você, alguns nunca tiveram os ensinamentos que você teve, e ainda assim nunca fizeram as escolhas que seus colegas e muitos outros, ou até fizeram mas se arrependeram, é tudo escolha, e na natureza do indivíduo, você é um viajante do tempo por amar em um mundo que já mudou tanto o amor que de amar só tem nome. É sempre a escolha, e regras são apenas prisões para quem tem problema com elas, regras é apenas uma forma de proteção.

O mestre sorriu e se levantou da bancada, e me entregou um pacote embrulhado, dizendo:

— Isso era do meu filho, e como você gosta do Senhor dos anéis como ele, tenho certeza que vai gostar, será um excelente escritor, e ensina mais do que a matéria para alunos. — E me abraçou, antes de eu abrir o pacote pequeno, ele se retirou, me deixando sozinho na cozinha. Quando eu abri o pacote, era “o um anel”, não cabia em meus dedos e por isso uma corrente. Eu fui para o meu quarto, meus colegas já estavam dormindo, peguei meu caderno e fui para a biblioteca, e escrevi meus pensamentos.

“Será que eu teria sido diferente?

Se soubesse que aquilo

Não era uma prisão

E sim minha opção?

Sinto-me confuso

Mas de certa forma

Gratificado

Minha raiva

Não foi

Mais com alguém

Mas direcionada a mim

Sou eu tão diferente?

Foram outros

Ou minha mente?

Talvez o que chamam de prisão

Para mim

Foi apenas algo

Que fortaleceu

O que já sou

E o que sinto

Em meu coração”

Viajante do Tempo

II

E veio o dia da formatura, Elliot acordou mais cedo que o normal, banhou-se antes que seus colegas acordassem, vestiu o terno do uniforme, porém este era diferente, a gravata estava um azul mais forte, e o prendedor de gravata tinha um tipo de relógio no meio, todos ganhavam um prendedor de gravata que batia de acordo com sua escrita, personalidade, ou assinatura poética. Ele se olhou no espelho, a última vez que olharia aquele espelho antigo, com molduras de madeira de carvalho, com detalhes dourados na moldura. Passou a mão na moldura e decidiu andar pelo orfanato enquanto muitos ainda dormiam, já havia feito as malas, e saiu do dormitório no terceiro andar e andou, o piso de madeira lindamente envernizado que era possível até ver seu reflexo no chão, olhou quadros antigos de artistas como Van Gogh, Michelangelo, Da Vinci, desceu a escada para o segundo andar devagar enquanto suavemente a mão descia pelo corrimão, e contemplava enquanto as paredes eram tons de azul e verde. Andou até a biblioteca e relembrou cada momento que passou ali escrevendo, lendo, ironicamente vários livros de fantasia e ficção, mas pouquíssimos de poesia, pegou sua primeira leitura: “A ilha do tesouro” de Robert Louis Stevenson, folheou as páginas, reviu com nostalgia cada ilustração, até bater a fome e decidir ir até a cozinha. Apressou os passos pela fome, e queria comer sozinho, acostumar-se que no próximo dia não iria ter vários alunos ou professores tomando café com ele, nem aulas, nada. Apenas ele e seu amigo Alcides, que escolheram morar juntos na cidade. Preparou um copo de leite com achocolatado e comeu algumas bolachas de chocolate, embora alguns ainda o chamavam de criança, não perdia o gosto ou a graça ao fazê-lo. Retirou de seu bolso interno do paletó um bloco, e uma lapiseira e escreveu:

“As manhãs jamais serão as mesmas

O silêncio tanto desejado

Passa a ser mórbido

As gritarias detestáveis

De repente parecem músicas

A companhia excessiva

Bate saudade

Sem nem ter partido

A liberdade

Perde a força

Quando lembro

Do peso

De responsabilidades

E a minha identidade

Se define por estas companhias?

Serei melhor

Ou pior

A saída por mais alegre

Sempre deixará alguma saudade

Marca ou alegria

Viajante do Tempo”

Dona Lourdes aparecera, uma das Senhoras da Limpeza e cozinheiras, para um orfanato apenas de rapazes, elas representavam de forma grandiosa um papel maternal, e Senhora Lourdes tinha seus cabelos grisalhos, o que antigamente eram completamente pretos, e o famoso coque, sempre de uniforme e um óculos quadrados bifocais, completamente pequena beirando 1,60 e com seus 65 anos e encurvada, para Elliot a imagem da famosa Tia May dos quadrinhos do Homem-Aranha sempre vinha em sua mente ao se deparar com ela. Ela olhou para Elliot, seus cabelos castanhos claros, olhos pretos escuros, magro e completamente alto, tendo 1,87, encurvado sentado escrevendo em seu bloco, sapatos sociais engraxados, sorriu com olhos marejados e sorriu:

— Como você está lindo! — Elliot se visou e sorriu enquanto se levantava para ir abraçá-la.

— Obrigado Senhora Lourdes. — A abraçou se abaixando, e ela o retribuiu com toda a força que aquela senhora conseguia, ao se soltarem ela começou a passar a mão pelo terno e arrumando algumas coisas, com olhar orgulhosa repetiu novamente — Como você está lindo Elliot!

— Obrigado! — Sorriu timidamente. Andaram em silêncio até o balcão, ele sentou-se e ela foi buscar a xícara de café.

— Estou tão orgulhoso de você Elliot, de todos vocês, sei que fará belas coisas, e será um ótimo escritor, afinal você é o meu favorito. — Disse sorrindo enquanto sentava e colocava a xícara de café no balcão.

— Obrigado, mas sei que você disse isso para todos. — Respondeu em um tom sarcástico e sorrindo, o que tirou uma risada espontânea de Dona Lourdes.

— Garoto, você me respeite, nós todos gostamos de todos, mas em questões poéticas, você é o mais dedicado. — Respondeu e deu uma piscadinha. — Afinal vi todos vocês crescerem, limpei a frauda de vocês, todo ano é a mesma emoção. — Continuou com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu sei, sentirei falta da senhora e de sempre fazer o achocolatado clandestino para mim. — Ambos sorriram, e seguraram as mãos por um tempo.

— Parece ontem que vi você correndo como um condenado por todos os lados em suas brincadeiras sem sentido...

— Espere, sem sentido não! — Interrompeu Elliot.

— Para mim era! — Respondeu a Senhora Lurdes com um sorriso bobo. E ambos riram.

— E também me lembro quando conheceu a jovem doce Catarina, na quarta série hahaha. — Dando uma risada satisfatória e desengonçada.

Elliot apenas expirou ar, e deu um pequeno sorriso sem graça.

— Primeira vez que todos vocês viram meninas, é sempre algo doce e meigo de se ver, embora no seu caso talvez tenha revelado um certo narcisismo pois ela era igualzinha a você, sua versão feminina. — Falou e voltou a rir como antes.

— Não era nada demais, poxa, éramos apenas “amiguinhos” e eu tinha dez anos, só isso.

— Pode tentar esconder, mas todos sabíamos que ela foi sua primeira paixonite aguda. A gincana entre o nosso orfanato e a escola municipal. Você não tentou manter contato, ou a procurou?

— Prefiro não falar sobre isso. — Respondeu desanimado e desviando o olhar.

Segundos depois Alcides entra. Vestido um terno preto com gravata vermelho, e um broche de engrenagem no lado esquerdo de seu terno, representava o apego a tecnologia e modernidade. Cabelos ralos e completamente pretos, olhos pequenos e castanhos, tendo seu 1,68, um contraste de altura entre Elliot e ele. Pegou seu café e cumprimentou Dona Lourdes, na qual preparava uma xícara de café para ele, elogiando-o e dizendo estar orgulhosa.

— Obrigado Dona Lourdes, vou sentir falta desse cafezinho, e pior, terei que aprender a fazer um café, já que meu futuro colega de quarto não bebe café. — Falou Alcides olhando de lado para Elliot.

— Prefiro leite com chocolate mesmo, eu bebi café demais quando criança. — Respondeu de forma neutra, mas com um sorriso.

— Quem sabe não tiro a Dona Lourdes daqui do orfanato e levo para fazer café na nossa nova casa. — Piscou Alcides para a senhora de idade que caiu em gargalhada.

— Capaz mesmo, trabalho aqui desde muito antes de você nascer e sinceramente, morrerei aqui! Há mais garotos que precisam de meu café, seu Alcides, terá que aprender a se virar sem as mordomias do orfanato, tenho certeza que de todos os desafios que ser um adulto oferece, fazer o café, te fará ser um grande vencedor. — Respondeu Dona Lourdes. Aproximou-se e beijou Alcides e Elliot, e retirou-se da cozinha.

O tempo passava e os demais acordavam. Os preparativos para a formatura estavam sendo feitos, os garotos estavam se arrumando, os dois amigos que antes estavam na cozinha decidiram andar pela mansão e até seus arredores, um belo campo que aos arredores havia um tipo de torre onde outros funcionários dormiam. E atrás da grande mansão era possível ver a cidade de longe, que de noite eles olhavam e pensavam ser um grande navio flutuante distante pelas luzes.

— Animado para nossa independência!? — Falou Alcides completamente animado.

— Na verdade não muito, é algo misto, mas não sei como será afinal não me encaixo muito lá fora, e você sabe disso. — Olhando para o chão e depois para a cidade.

— Você se preocupa demais! Todos nós nos sentimos assim, com a questão de morarmos em um orfanato cristão formadores de poetas! Hahaha, com o tempo você saberá o que fazer e como reagir.

— Você diz isso por quê fez coisas que todos fazem, tu fingiu amor para ficar com uma garota! — Elliot se exaltou e olhou seriamente para Alcides.

— Sim, é verdade, mas me arrependo, não valeu a pena, isso só me ajudou a ser mais como você é. — Sorriu Alcides colocando a mão no ombro de seu amigo.

Elliot acreditou, ele se esforçava para acreditar, queria profundamente, mas sempre havia um resquício de dúvida. O tempo passou, e logo estavam os professores, o diretor, funcionários, e os alunos mais jovens, desde os mais jovens, até o que posteriormente iriam se formar no próximo ano. Todos de terno, eram 60 jovens se formando. Cada um com uma cor de gravata e prendedor de gravata diferenciado.

III

Em frente a mansão do orfanato, as cadeiras para todos os funcionários estavam arrumadas em frente ao pequeno palanque, todos socialmente vestidos, Elliot estava com a beca e sentado no meio de seus colegas. O diretor do orfanato apareceu, um senhor com seus 80 anos, cabelos completamente grisalhos, óculos pequenos para a leitura, olhos azuis, cabelos bem penteados, algumas manchas na pele em sua mão, bem arrumado e com uma grande presença, caminhou até o microfone começou a discursar:

— Vocês jovens meninos que cresceram conosco, amanhã estarão no mundo de oportunidades, sejam boas ou ruins, vocês farão o futuro, e talvez não tenhamos acertado sempre com vocês, afinal somos humanos, somos imperfeitos e incompletos, fizemos o melhor que podíamos para que crescessem com educação e alguma noção de família. A partir de amanhã vocês irão em algum momento formar a família de vocês, que possam mudar o mundo com as palavras e ações, palavras sem ações não valem nada, sejam o diferencial no mundo, plantem com sabedoria o que querem colher no futuro. E não deixem o passado de vocês definirem o futuro, sempre pode mudar e se aperfeiçoar. E agora sem mais delongas a entrega dos canudos! — Todos aplaudiram e os nomes foram chamados, 60 rapazes pegando os canudos, sendo fotografados por funcionários, a quem viram e faziam parte de sua rotina diariamente. A entrega acabou, todos se abraçavam, os mais jovens assistiam ansiando um dia estar naquele momento, enquanto os que se despediam relembravam de quando desejavam estar ali, e agora desejavam serem mais jovens novamente.

Os mais jovens foram enviados aos dormitórios ou biblioteca, e os formandos foram para o salão de reunião, que estava fechado desde de manhã, eram 18:00 e estavam todos com seus ternos, e então adentraram, o local decorado com dourado e branco, um buffet, garçons e mesas com bebidas, nenhuma alcóolica, e famílias da cidade com jovens garotas da mesma idade, e nas mesas os nomes dos jovens que deveriam se sentar, por ordem alfabética, Elliot se viu junto de uma família com uma jovem de cabelos cacheados escuros, olhos castanhos claro, incrivelmente branca, o que destacava os lábios avermelhados do batom extravagante, com seus 1,67 de altura por aí, se chamava Thalia, sua mãe e seu pai estavam juntos com uma pequena bebê, a mãe tinha cabelos pretos mas lisos, olhos azuis, uma mãe bem jovem, e elegante de forma sútil. O pai já era um pouco mais velho que a mãe, e tinha alguns cabelos cacheados embora grisalhos, o pai tinha óculos castanhos e usava um humilde terno, cumprimentando Elliot apresentou a família e pediu para se sentar, se apresentou como José, e a mãe como Rosana, a filha menor de Talita, e a jovem que encantou Elliot.

— Foi uma iniciativa do Diretor, adotar um jovem órfão para a formatura, afinal ele faz tanto para vocês, e quisemos fazer um pouco. Minha filha gostou de alguns versos seus. Você tem talento jovem. — Falou o pai de Thalia.

— Obrigado. — Respondeu Elliot timidamente, e ainda lidando com a palavra que tanto odiara, “órfão”.

— Vamos dançar? — Perguntou Thalia se levantando, onde estava vestindo um vestido preto longo que acentuava as curvas de seu corpo, sensual, ela o pegou pelas mãos, enquanto a mãe e os pais sorriram encorajando.

Eram músicas agitadas dos anos 80 e 90, todas divertidas, Elliot mal se movia, enquanto olhava Thalia se movendo graciosamente e se divertindo com ele. Elliot ficara vermelho pois eram os únicos na pista, que logo ficou cheia de jovens dançando e rindo entre si. Logo os dois se cansaram e voltaram para comer algo, era uma janta agradável, churrasco, enquanto comia seu José pergunta:

— Qual curso pretende fazer na faculdade meu jovem?

— Letras, pretendo lecionar, isso é importante para um escritor.

— Um escritor, que chique Elliot. — complementou docemente a Senhora Rosana.

— Pretende escrever apenas poesias? — Thalita entrou na conversa.

— Por enquanto sim, nosso dever de alunos aqui é exatamente ser escritor, claro que nem todos os alunos conseguem esse feitio, mas eles sabem produzir, e não há restrições em procurar outra vocação, mas é o principal para este orfanato, e é algo no qual eu sou, sem me gabar, incrivelmente bom. — Falou Elliot demonstrando orgulho por seu talento com uma pequena dose de arrogância.

— É bom ter certeza de seus talentos, mas pretende ser professor também? Ou irá dedicar-se completamente a ser escritor?

— Pretendo lecionar, por mais que minhas palavras devam mudar o mundo, ao ensinar também poderei fazer isso, e também preciso de uma profissão, ser escritor não me renderá dinheiro facilmente.

— Você está certo, nossa Thalia pretende ser veterinária, adora animais, as vezes mais que humanos...

— Mãe! Apenas penso que alguns animais são melhores que seres humanos. — Sorriu maliciosamente.

A música de repente parou de tocar, e o diretor pega o microfone:

— Boa noite, antes de mais nada parabéns para os formandos, que para nós além de alunos são como filhos, e uma salva de palmas para eles. — Todos aplaudiram fortemente, com assovios e gritos de alegria entre os jovens. — Vejo que estão felizes com essa festa, agora agradeço também as famílias que adotaram e vieram aqui prestigiar a vocês, e as jovens filhas que estão dançando com vocês, todas muito lindas, e famílias adoráveis. — Os jovens alunos aplaudiram de pé os mais extrovertidos gritaram elogios as garotas. — E agora uma notícia importante o orfanato não irá mais deixar de ser uma escola, e devido a esse doador anônimo, ele forneceu presentes para os formandos, e estamos entregando celulares para todos vocês. — Os garçons foram em cada aluno e entregaram as caixas completamente fechadas. Elliot abriu e começou a configurar o celular, o mesmo pode ser dito com os outros formandos, depois de ter ligado Thalia toma o celular de Elliot da mão dele e coloca o próprio número:

— Agora poderemos nos falar bastante! — E piscando para ele, o deixando vermelho e sem graça, mas não escondendo um sorriso sincero. A música agora é lenta, e ela o pega pela mão para dançar, ele não sabendo dançar, apenas se movia devagar junto com ela, ela olhou “o um anel” e diretamente lançou a pergunta:

— Isso é um anel de noivado? — Ele riu

— Não, é o anel do Senhor dos anéis, presente de meu professor Marcos, era do filho dele, ele deu para mim como presente de formatura.

— Ah sim, ia perguntar onde estava sua noiva. — Soltando uma pequena risada.

— Boa pergunta, talvez esteja dançando comigo agora.... — Falou Elliot com uma voz tremida mas tentando dar um tom de sarcasmo, mas ela se assustou o que fez com que ele se afastasse dela no momento.

— Calma aí poeta, gostei de você mas só quero sua amizade, vai devagar, sua noiva está por aí, mas não sou eu.

Ela beijou a bochecha, e o abraçou, eles terminaram a dança e depois foram para fora do orfanato, e ficaram conversando, ambos gostavam e Star Wars, ele mostrou alguns poemas de seu caderno, e conversaram até que o baile acabasse e os pais dela o parabenizaram e a levaram embora, Elliot sentiu rapidamente o vazio apertar seu peito, alegrando e causando medo ao mesmo tempo. No outro dia a tarde iria embora do orfanato com seu melhor amigo, tirou sua lapiseira e escreveu:

“Você me alegra

E me assusta

Eu me assusto

Não conheço o mundo

Seria minha intensidade?

Ou a falta de hábito

Em falar com mulher?

E pensar que o tempo voava

E não consegui nem uma colher

De você

Representou o mundo

Onde assusto-me

E me alegra

Seu beijo na bochecha

Levou-me ao céu

Sua despedida

Uma queda bruta

Anseio por mais momentos

E sucumbo a paixão

E luto contra

E me desespero

Pelo medo

Do mundo

E de quem sou

Para ti

Viajante do Tempo”.

No dia seguinte, fez as malas, se despediu com grande emoção de todos, e subiu no ônibus com Alcides, em direção ao apartamento onde iriam morar.

❖❖❖
Notas de Rodapé

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