O Buda gordinho sorri e me observa
As pessoas vão entrando e se servindo com leveza
Meu prato é sempre o mais cheio
Pois minha fome é insaciável
Parece que ele sabe que tudo vai passar...
(Vou tentar crer)
Minhas lágrimas temperam
A Comida Chinesa Vegetariana Sagrada
Enquanto pingam aos montes
Molham a comanda
Me ajudam a digerir
TUDO
24 anos de azar ou ingratidão
Para eu que ousei
Fazer todas as escolhas erradas
Tentando acertar e ser suficiente
Venho neste restaurante escondido entre as árvores
Sempre que minha alma se sente doente
Me servem com as duas mãos
Como se eu fosse preciosa
Sempre me desejam um ótimo dia
Com toda a sinceridade
Como se pudessem ver
O vazio que carrego
Atrás das palavras de gratidão que esboço
Eu moraria nessas paisagens pintadas
Por pincéis grossos e tinturas finas
Eu morreria nessas montanhas
Depois de gozar de alegria
Se eu tivesse dinheiro para comer aqui todo dia
Talvez tudo fosse melhor
Ou talvez eu só estaria preenchendo
O buraco que a dor deixa no meu peito
Logo quando eu acordo, e assim que me deito
Pois eu substituo faltas, azares, perdas e pesares
Com comida afetiva que custa o olho da cara
Já que nunca serei tão magra
Para caber dentro dessa capa,
Prefiro fazer montanhas de maravilhas no prato
Como um glutão...
E afastar toda a solidão.