Ossos de Baleia
Holzwarth
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 21/12/23 23:16
Gênero(s): Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min
Apreciadores: 1
Comentários: 1
Total de Visualizações: 586
Usuários que Visualizaram: 3
Palavras: 321
Não recomendado para menores de doze anos
Notas de Cabeçalho

É o que resta (um daqueles bem qualquer-coisa).

Capítulo Único Ossos de Baleia

A solidão dos outros é sempre maior. Mais importante. Mais dolorida. Mais ácida. Ela corrói mais e também arde mais. Quem fica com a parte da barriga reclama, porque queria o lombo porque lá tem mais carne e a delas só não é a melhor porque tem gordura e ninguém disse que carne perto da gordura é a mais saborosa (é). E quem fica com o lombo reclama, porque queria a barriga porque lá tem gordura e a deles só não é a melhor porque tem mais carne e ninguém disse que lombo é o mais saboroso (é).

Eu fico com a ossada. Limpa. Sem nada. Só osso. Duro igual concreto. Pego na mão, vejo: limpinho! Não sobrou nada. É por isso que ninguém quer. Ninguém nunca vai querer. Só eu. Eu os penduro no teto, monto como se ela estivesse viva. Me imagino dentro da barriga dela. Comido. Mastigado. Trucidado. Eu não tenho fome de osso (ninguém tem). Nem de barriga, nem de lombo. eu não posso ter fome (muito menos de barriga ou de lombo).

O osso é do museu. Da ciência. Pra inglês ver. Ninguém quer o osso. Eu não quero porque tenho fome. Eu quero porque posso montar a baleia acima da minha cabeça. Ninguém nunca vai querer uma baleia dessa se for só para ter o osso. São eles que sobram quando todo mundo come. Eu sou o último da fila.

Um dia ainda quero pegar uma baleia inteira, mas tem que ser inteira e ela precisa estar viva. Quero saber como é ter um lombo para chamar de meu e uma barriga para chamar de minha. Como é chupar a carne dos ossos? Como é sujar o beiço de gordura? Todo mundo sabe, só eu que não. Sou caçador e comedor de osso. Pra mim não sobra nada. Só os ossos que eu mastigo. Ossos de baleia. É isso que sobra pra gente como eu.

❖❖❖
Notas de Rodapé

*rindo e apontando*

Apreciadores (1)
Comentários (1)
Postado 22/12/23 13:05

Q crônica triste, pela baleia e pela pessoa q sempre fica com os ossos.

Postado 24/12/23 00:51

Penso bastante em caçadores de baleias e em como eles conseguem abater um bicho desses sem sentir algum remorso. É claro que se trata do ganha-pão, falando do homem que passa os verões e as primaveras no mar, mas é triste realmente.

O animal foi feito para ser grande, não é como se uma baleia grande fosse raridade ou como se demorasse séculos para ficar daquele tamanho. Ainda me espanto com o tamanho da ossada da baleia-azul que vi num museu de história natural. A de jubarte (?) que já vi não chega nem perto em termos de tamanho. Acho que dá dó pensar em baleias mortas não pelo maior trunfo delas (serem imensas), mas porque a gente sabe que elas não fazem mal pra ninguém, que estão apenas existindo e são mortas porque alguém precisa ganhar dinheiro. Tem alternativas melhores para comida que vem do mar. Me perdi no raciocínio. Pobres baleias.

Obrigado pelo comentário! ₍ᐢ. _ . ᐢ₎