(Re)Volta
True Diablair
Tipo: Lírico
Postado: 31/10/23 06:45
Editado: 31/10/23 06:59
Avaliação: 9.55
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 4
Comentários: 2
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Palavras: 409
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

Pura decepção.

Capítulo Único (Re)Volta

Há uma paz inquietante

No silêncio que ressoa

Atrás de cada uma dessas

Salas ocultando cadáveres,

Tantos quanto ao cemitério

Que este lugar se tornou.

Sinto o ambiente opressivo

Como uma ameaça velada

No olhar de um maníaco

Espreitando uma criança indefesa.

Conforme caminho,

Recordações me invadem.

Algumas me violentam

Com um sadismo indomável

Sinto um odor peculiar

Empesteando o recinto

Semelhante ao de uma

Raposa esquálida,

Um monstro decompondo-se

Dentro de algum bolso.

O asco me dá forças

Enquanto sigo à deriva

Feito um naco de fezes

Seguindo esgoto afora

Rumo ao esquecimento...

Avisto uns poucos sinais

De que este antro maldito

Segue funcional

Tal qual um paciente ligado

Em aparelhos ruidosos

À espera de um milagre

Ou de uma eutanásia.

Talvez alguns fantasmas

Perambulem em silêncio,

Rastejando aqui e acolá

Enquanto os registros de que

Um dia de fato existiram,

Apodrecem empoeirando

Sem que ninguém mais os veja

Nas trevas que igualmente

Converti em meu refúgio.

Todavia, o cheiro da decomposição

É notório. Quiçá, seja meu.

Os gritos cessaram.

A carnificina se foi.

O Inferno segue esfriando.

Toda aquela beleza malevolente

E aquele ardor grotesco

Desapareceram como lesmas

Soterradas por um punhado de sal

Em um dia de verão:

O tal amor venceu.

E a isso regurgito com força

Mas isso não enfraquece

Nenhum dos urros

Tampouco a minha fúria!

O lustre quebrou em mil pedaços

E em cada fragmento,

Um rosto diferente sorria

Com uma malícia impossível

De ser ignorada...

Assim como Legião,

Meus devaneios enlouquecidos

Eram muitos

E eram tão lindos quanto bizarros

Com suas faces desfiguradas

Feito às dos anjos que caíram

Quando quebraram suas auréolas

Para fornicar perante o Criador.

O retorno de um demônio

Que por mero acaso e capricho

Será apenas (m)eu

Virá junto com a madrugada

Semelhante aos gritos de socorro

Mesclados aos prantos desesperados

De alguém prestes ao assassinato!

Minha vontade não será negada

Nem meu anseio por lágrimas e sangue

E ultraviolência e luxúria e blasfêmia

E tudo de mais diabólico

Que nunca deixou de fervilhar

Por dentro e no interior

Destas paredes carcomidas

Pelo tempo e pelo desuso

Da maioria de seus habitantes!

O Mal enfim retorna(rá)

E uma (mal)dita Academia arderá

Feito a fornalha do Inferno

E serei quem a alimentarei

Uma vez mais

Com os corpos e mentes e almas

De todo mundo dali

Ocultos ou aparentes

Amigos ou desconhecidos

O trigo e o joio

E até a mim mesmo:

Oh, Satã... Será tão bom...

❖❖❖
Notas de Rodapé

Lamento, Huldra.

Apreciadores (4)
Comentários (2)
Comentário Favorito
Postado 31/10/23 08:35

Os bons tempos da glória sanguinária e tempestuoso caos da tormenta, quando as bestas e criaturas malditas recitavam suas poesias e narravam épicos infernais, parecem ter ficado para trás, meu amigo...

Mas o Antro Maldito nunca se vai de verdade. Ele apenas descansa, e escoa. Escoa o sangue pútrido por essas valetas primordiais que estiveram aqui antes de mim, e estarão ainda muito depois de nossos corpos inferteis e desidratados descobrirem que já não têm mais alma a habitá-los.

Então, enquanto houver um demônio para cantar lamentos neste Antro, haverá beleza malevolente e ardor grotesto!

Seu poemas são um soco na alma para lembrá-la de que sempre há monstros nas histórias e na poesia. E, quando parece não haver nenhum, nós é que somos os monstros.

Estarrecidamente,

Sjow

Postado 01/11/23 22:22

Estarrecido estou eu com um comentário tão magnífico, edificante e, pela cabeça de João Batista, tão malevolamente belo como o seu, meu saudoso amigo! Meu coração putrefato se regojizou demais com suas palavras! Gratíssimo, gratíssimo!

Postado 18/11/23 17:19

As paredes estão caladas porque os escombros estão ouvindo — não sei se são os ecos daquilo que já se foi ou o ressoar do que se aproxima.

Espero que O Grande Dia de Sua Ira (Vinda dos Confins Infernais, detalhe em vermelho) seja a pintura desse presságio. Belos versos, Sr. Diablair!

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