Há uma paz inquietante
No silêncio que ressoa
Atrás de cada uma dessas
Salas ocultando cadáveres,
Tantos quanto ao cemitério
Que este lugar se tornou.
Sinto o ambiente opressivo
Como uma ameaça velada
No olhar de um maníaco
Espreitando uma criança indefesa.
Conforme caminho,
Recordações me invadem.
Algumas me violentam
Com um sadismo indomável
Sinto um odor peculiar
Empesteando o recinto
Semelhante ao de uma
Raposa esquálida,
Um monstro decompondo-se
Dentro de algum bolso.
O asco me dá forças
Enquanto sigo à deriva
Feito um naco de fezes
Seguindo esgoto afora
Rumo ao esquecimento...
Avisto uns poucos sinais
De que este antro maldito
Segue funcional
Tal qual um paciente ligado
Em aparelhos ruidosos
À espera de um milagre
Ou de uma eutanásia.
Talvez alguns fantasmas
Perambulem em silêncio,
Rastejando aqui e acolá
Enquanto os registros de que
Um dia de fato existiram,
Apodrecem empoeirando
Sem que ninguém mais os veja
Nas trevas que igualmente
Converti em meu refúgio.
Todavia, o cheiro da decomposição
É notório. Quiçá, seja meu.
Os gritos cessaram.
A carnificina se foi.
O Inferno segue esfriando.
Toda aquela beleza malevolente
E aquele ardor grotesco
Desapareceram como lesmas
Soterradas por um punhado de sal
Em um dia de verão:
O tal amor venceu.
E a isso regurgito com força
Mas isso não enfraquece
Nenhum dos urros
Tampouco a minha fúria!
O lustre quebrou em mil pedaços
E em cada fragmento,
Um rosto diferente sorria
Com uma malícia impossível
De ser ignorada...
Assim como Legião,
Meus devaneios enlouquecidos
Eram muitos
E eram tão lindos quanto bizarros
Com suas faces desfiguradas
Feito às dos anjos que caíram
Quando quebraram suas auréolas
Para fornicar perante o Criador.
O retorno de um demônio
Que por mero acaso e capricho
Será apenas (m)eu
Virá junto com a madrugada
Semelhante aos gritos de socorro
Mesclados aos prantos desesperados
De alguém prestes ao assassinato!
Minha vontade não será negada
Nem meu anseio por lágrimas e sangue
E ultraviolência e luxúria e blasfêmia
E tudo de mais diabólico
Que nunca deixou de fervilhar
Por dentro e no interior
Destas paredes carcomidas
Pelo tempo e pelo desuso
Da maioria de seus habitantes!
O Mal enfim retorna(rá)
E uma (mal)dita Academia arderá
Feito a fornalha do Inferno
E serei quem a alimentarei
Uma vez mais
Com os corpos e mentes e almas
De todo mundo dali
Ocultos ou aparentes
Amigos ou desconhecidos
O trigo e o joio
E até a mim mesmo:
Oh, Satã... Será tão bom...