Eles têm um coração puro
O suficiente
Para conseguir me ver criar vida?
Escutam os sinos, admiram os vitrais
E cada entalhamento nas paredes douradas
E brancas
De dentro do templo
Mas, o louvor chega murcho aos ouvidos celestiais.
Entram em pares, em trios, em conjuntos
Tons pálidos, terrosos e escuros
As cores e glória, estão nas jóias
Daqueles que se arrastam pelo público
Pelo púlpito
Com seus olhos bem fechados,
Para não enxergar a dor, a fome, a própria vaidade.
A cor e as luzes, se deitam sobre
Os que se assentam em lugares especiais
E fingem ler e ouvir enquanto sibilam
Junto aos demais,
Enquanto não têm nada de valioso a oferecer
Para nenhum destes mortais.
Há sangue nos sapatos caros...
Há odor de morte nas pedrarias de 1 milhão.
O artista que esculpiu a Madre,
Foi exilado,
O que ele tinha de mais valioso, lhe foi tirado
E consagrado, e para sempre trancado
Entre o clero e os portões.
Mas... Observo tudo isso aqui de cima,
De dentro deste corpo que fizeram só para mim,
Com olhos pálidos e furiosos,
Os que de relance me flagram, uma única vez,
Jamais poderão escapar do meu cravar encapelado...
Com estas garras fundidas às pilastras,
Com asas grandes, sólidas e curvadas.
Eu os observo repetir, repetir e repetir
Sem saberem ao certo, no que de fato estão acreditando...
Mas vou fazê-los acreditar em mim.
Pois há muito, sou amaldiçoada
Pequena grande Gargoyle
A mulher petrificada
Sussurro com as outras Gárgulas
Cada uma com sua beleza sombria e singular
Todas elas também estão fartas de apenas
Estagnar, sobrancear e fantasiar
O desmoronar de toda a hipocrisia
De toda face lavada e lisa
De toda língua envenenada de fala macia
De cada grão de pureza que impregnou
E deixou fétido
Este lugar.
Na missa,
Da Meia-Noite,
As Gárgulas irão entoar
Clamor amargurado
Com intensão de imolar
Cada criminoso de batina que não teve
A decência de confessar.
Durante tantos invernos e infernos,
Quebrei minhas garras com pedradas
Depenei minhas asas poderosas
Lixei meus caninos
Tudo para ser admirada
E amada
Mas que glória há
Em uma existência fadada
A espectar?
É o momento de fazer jorrar
A dor do rugido
Em palavras não ditas
Cravar as unhas no mármore e rachar cada pilastra
Quebrar cada vitral etéreo
Com o bater encolerizado de minhas asas
Abocanhar cada coração pútrido
Que se esconde em pânico
Embaixo das bancadas
Ceiar e gargalhar
Enquanto vinho e sangue
Pingam de nossos lábios.
Agora, todos me olham.