Corro sem destino
e carrego comigo
uma dor que arde...
Quando eu retornar para casa, você não estará lá me esperando. Somente os fantasmas de nossas lembranças poderão consolar a minha dor: o restinho do seu cheiro nas roupas que não couberam na sua mala serão como um sopro de vida em meu peito nos momentos que a solidão me abraçar e deitarei em seu travesseiro como quem busca o colo capaz de curar até os corações mais partidos.
Quando te vi pequenino na multidão que te levaria a desaparecer no céu segurando com toda a sua força a mão trêmula da nossa mãe, percebi tardiamente que você levou uma parte minha tão grande, que subitamente eu me esqueci como se respirava. De repente, a sua ausência foi sinônimo de um curto-circuito no meu cérebro. E embora as pessoas parassem para ver a minha angústia desesperada naquele saguão que já havia presenciado as mais tristes despedidas, eu não conseguia ver nada além do vazio que você deixou.
Os armários de casa ficaram vazios sem os seus brinquedos. O eco do corredor nunca mais foi amável sem seus passos arteiros. Os meus cadernos ficaram tristes por não receberem mais seus desenhos sorrateiros. O meu coração nunca mais sorriu depois que eu não pude ver mais seu sorriso cheio de janelinhas... Percebi que tudo era como era, porque você sempre foi o significado da minha existência.
Se houver outra vida, eu espero que nela a nossa família não tenha se desfeito em sofrimento e despedidas para que eu possa, enfim, te ver crescer para conquistar o mundo com a sua bondade. Mas se ainda assim tudo de ruim nos ocorrer e você precisar partir, por favor, me leve com você, porque as lágrimas de saudade pesam demais no meu rosto e sempre acabam despedaçando o meu coração (e você sabe que eu me machuco com facilidade).
Corro sem destino
e carrego comigo
uma dor que arde:
o nome dela é saudade.