Você devia ter uns 15 anos quando eu te conheci, deitada sozinha no meio da floresta. Você perguntou o que eu era, por que o meu cabelo era branco, mas logo ficou com medo da minha resposta, mas depois ficou interessada também, e não parou de fazer perguntas. Era um dos dias mais quentes do verão, o seu vestido era daqueles bem leves, azul-claro, quase transparente, mas o que me chamou mais a atenção foi o seu cabelo cortado na altura do ombro, castanho. Naquele momento eu já gostava de você. Que garota engraçada, eu pensei. Todos os dias você vinha me ver, e foi assim até o fim das suas férias, não teve um dia que não passamos juntos, brincando, correndo, rindo, pulando os riachos, e no final da tarde, ou nadávamos no rio ou conversávamos olhando as estrelas. Mas depois ficou mais complicado, quando você quis me apresentar pra sua vó e eu disse que era impossível, que eu não podia sair da floresta, e nem se você a trouxesse, ela não conseguiria me ver. Mas você não entendeu, e ficou com raiva de mim, se chacoalhando, se batendo, brigou comigo, mas logo se jogou nos meus braços e chorou igual uma criança, você era assim. O verão acabou, você voltou pro colégio, e quando voltou estava mais velha, e eu continuava o mesmo, e foi assim até a ultima vez que conversamos. Eu nunca conheci ninguem igual a você, Alice, na verdade, eu sinto que nos conhecemos muito antes de 2005, e que ainda vamos nos conhecer de novo, não importa quanto tempo eu tenha que esperar, 5, 20, 40 anos, a gente vai se ver de novo. E até lá, eu nunca vou te esquecer.