O quão solitária, fútil e sem talento
eu consigo me sentir até o findar
de todo o meu tempo?
Vivo temendo o dia em que eu tomar
a quantidade necessária de coragem
para arquitetar algo sutil e grandioso
que irá revolucionar
minha pequena bolha.
Pois eu tenho tanto
medo de ser julgada,
esquecida logo após
os aplausos cessarem
ser considerada uma,
artista desprezível,
que eu nem ao menos
tento ser mais do que
sombras nas paredes dos
lugares por onde ando.
É confuso, pois às vezes
quando me olho de cima
julgando friamente o jeito
desafinado com o qual eu canto,
cada verso torto e sem rima
que eu escrevo aos prantos,
cada amizade que se vai
enquanto eu não estava
nem ao menos olhando,
então de repente,
tudo começa a fazer mais sentido.
Durmo e acordo com a
incessante e trêmula
sensação de ser o mais
pleno desperdício de
bençãos, privilégios
e eloquência.
Eu sempre fui uma criança feliz,
eles disseram.
Foi o papel que eu tentei
interpretar: uma bonequinha
que só existe para te agradar,
não consegui.
Eu de repente, me tornei
uma adolescente mentirosa
com as calças em chamas
e com chamas nos olhos
e ácido na língua
e só personagens inventados
para chamar de amigos.
Alguns já me viram antes
tropeçando pelas ruas
enquanto da minha boca
só brotava nervosismo
e risadas de histeria.
Mas a adolescente sumiu
no meio daqueles shows de rock
e das multidões ocupadas
das relações desgastadas
das situações macabras
e dos empregos frustrados
e então, a jovem adulta surgiu.
Quem é ela?
Credo...
Já esteve melhorzinha, ela...
É...
Essa sou eu,
um pouco mais borrada
do que antes
um pouco mais tímida
do que antes
e um pouco menos paciente
agradável e conformada
do que sempre fingi ser.
Pois fui aprendendo com os anos
que este mundo é tenazmente
doloroso para mulheres
que observam abismos como eu.
É, eu já soube escrever melhores
poemas, versos e rimas
Sim, minha voz já foi mais agradável
como um doce sorriso durante um beijo...
E eu já tive mais força
para lutar com mais esperanças
por tudo aquilo que eu desejo...
Mas hoje eu só sei trabalhar,
comer, dormir, cagar
e esperar tudo isso passar.
Quando vai passar?
Tem prazo para acabar?
- Sim, esse sistema está em declínio abissal.
Afinal, somos todos especiais?
Ou nada realmente importa e a vida...
É apenas uma descoberta de novas derrotas?
Todo o meu falatório Nihilista
ajuda alguém em alguma coisa?
Eu não sei,
mas ao menos,
pelo silêncio,
não sou a única
que apenas gostaria de
saber algumas respostas
pois obviamente no capitalismo tardio,
só vence quem cola pra gabaritar a prova.