Lin tem a boca torta. Mesmo que tente, nunca sabe disfarçar quando está desgostosa com algo. Ultimamente, ela anda desgostosa com tudo.

Thamires, em sua fumaça fantasmagórica, a encara com seus olhos vazios de neblina-moça.

— O que te chateia?

Pergunta, mesmo que longínqua. Levanta as sobrancelhas, mostrando que não adiantava mentir para ela. Não que Lin costumasse mentir, isso era hábito dela.

— É só que… É que…

Tem coisa demais para dizer, só lhe falta saber como. Depois de muito escorregar nas palavras, consegue dizer.

— Você costumava precisar de mim, sabe? Costumava me procurar quando estava mal e pedir meu colo. Você dizia que eu te fazia te sentir bem. E de repente… você mal conversa comigo.

Lin coloca e tira as unhas da boca, tentando manter seu tique de alívio de ansiedade e ao mesmo tempo não arruinar o trabalho que teve de deixá-las crescer.

A fumaça apenas a encara e nada a responde.

— Eu me sinto feito a caneca de dragão chinês que faz chá sozinha que eu te dei de presente. Esquecida no meu próprio armário, porque você não quis me levar pra casa. Você diz que ela não serve porque fica um restinho de erva no copo depois de tirar o filtro, mas isso é porque você coloca água demais.

Lin olha para o lado, para a figura que aos poucos se dissipa. O rosto de Thamires está sumindo, de novo.

— Mas de que adianta falar qualquer coisa? Você nem está aqui. É apenas um vulto fantasmagórico que assombra meu presente com o passado nem tão pretérito assim. É fumaça, feito a que sai da caneca.

Ela dá uma bicada no chá mate feito na caneca de dragão chinês. Docinho, como ela gosta.

— Queria parar de me importar com você, sabe? — Suspira. — Quem sabe um dia.