PRIMEIRA CENA: INT. MANSÃO JASON (COZINHA) - NOITE (22H)
A jovem Tortura, que está trajando um avental vermelho por cima de seu vestido preto, encontra-se diante do fogão virando as panquecas em uma frigideira. A Imperatriz está sentada em um dos bancos de madeira atrás de sua sobrinha, porém sua expressão não é das mais alegres. Apesar do silêncio do local trazer uma atmosfera tranquila, o clima da residência não era o mais agradável. O motivo era simples: após o roubo dos olhos da dupla, ocorrido no dia anterior, as jovens entraram em contato com seus tios, chamando-os para as visitarem no dia de hoje — sem contar o motivo real para não alarmá-los — e conseguiram erguer um feitiço na Sala de Desmembramento para conter o miasma maligno que se espalhava pela casa. Todavia, após muitos esforços, a Imperatriz não conseguiu encontrar a localização de Blake para pedir ajuda, o que a deixou frustrada e enfurecida, tendo em vista que o mesmo havia dito para chamá-lo caso alguma situação grave ocorresse com Tortura.
FLASHBACK: INT. MANSÃO JASON (HALL DE ENTRADA) - MADRUGADA DE ONTEM (3H30)
[Tortura desce as escadas furiosamente. Duas finas linhas de sangue escorrem por cada lado de seu rosto, tendo em vista que os globos oculares com íris verdes haviam sido recém colocados após o roubo do duende. Quando os pés da jovem alcançaram o assoalho de madeira rubra do hall de entrada, a mesma passou a caminhar de um lado para o outro como se estivesse diante de um dilema mortal, enquanto a sua feição variava entre raivosa e preocupada. A Imperatriz, que também está com duas finas linhas de sangue escorrendo por seu rosto moreno, desce apenas três degraus e cruza os braços, encarando Tortura. Ternura e Tristeza estão paradas próximas a Imperatriz.]
TORTURA (com amargura no tom de voz): Não podemos chamá-lo para resolver essa situação, principalmente quando estou diretamente envolvida.
IMPERATRIZ (incrédula): Por todos os diabos, Tortura, é justamente pela gravidade da situação que precisamos tentar consultar Blake.
[Tortura levanta rapidamente a cabeça para encarar sua madrinha. Faziam anos que ela e o hunter haviam rompido, porém ninguém da família falava sobre ele ou como ele estava, já que qualquer menção ou referência a ele fazia a jovem de cabelos negros voltar a sofrer. Portanto, ela se surpreendeu quando sua madrinha quis chamá-lo para caçar o duende, assim como achou curioso o modo que ela havia pronunciado as palavras anteriores.]
TORTURA (arqueando a sobrancelha): O que você quis dizer com tentar?
IMPERATRIZ (com severidade): A única coisa que você precisa saber é que Blake me pediu… Não, pedir seria eufemismo! Ele me ameaçou, dizendo que eu deveria chamá-lo caso alguma situação grave acontecesse com você.
[Tortura solta uma risada alta, fazendo com que uma veia salte na testa da Imperatriz.]
TORTURA (com ironia): Depois de todos esses anos, de todas as missões que fizemos no Covil dos Assassinos e de todas às vezes que fiquei entre a vida e a morte, você acha mesmo que eu iria concordar em chamar Blake para caçar um mero duende, sendo que eu pisei sobre os sentimentos dele como se fossem lixo?
[A frase da jovem se encerra com uma palpável amargura. A Imperatriz começa a descer as escadas e, ao chegar diante de Tortura, desfere um tapa sobre a face da mesma. Sua afilhada a encara com incredulidade, enquanto coloca uma das mãos sobre a bochecha esquerda, que está vermelha por conta do golpe.]
IMPERATRIZ (com severidade): Entendo seu lado, na mesma perspectiva que entendo o dele, porém não cabe a mim te dizer pelo o que Blake passou durante todos esses anos, pois não sou corvo correio. Se você quer saber, pergunte diretamente a ele! Além disso, pare de se martirizar por ter rompido, essa fase de lamúria já passou! A única coisa que sei é que vocês dois são teimosos e se parassem por um segundo para refletir acerca de toda essa situação, encontrariam uma saída. Vocês têm a oportunidade de escolherem ficar juntos e durante todos esses anos me abstive de te falar isso por respeitar a sua dor e por saber o motivo dela, mas saiba que te acho uma verdadeira imbecil por ter seguido pelo caminho mais fácil. Eu gostaria de ter tido escolha com Damon...
[As palavras finais da jovem de cabelos verdes saíram como se fossem um sussurro engasgado e a mesma, para conter as lágrimas que ameaçavam cair de seus olhos, colocou os dedos sobre as pálpebras fechadas, respirando fundo algumas vezes para se acalmar. Ninguém sabia ao certo o que havia acontecido, nem mesmo a própria Imperatriz, pois a única coisa que Pablo explicou a ela foi que Damon havia se sacrificado para salvar Blake em uma jornada que o hunter estava para conseguir controlar a Mancha Negra, e que o vampiro havia sido amaldiçoado por Morfeus. Por conta disso, o jovem ruivo despertava apenas uma vez ao ano, em seu aniversário, e durante todos os outros dias dormia.]
IMPERATRIZ (após se recuperar): O que eu quero dizer com tudo isso é que Blake talvez seja nossa única alternativa. Rumpelstiltskin é perigoso e…
TORTURA (interrompendo a Imperatriz): Perigoso?
IMPERATRIZ: Depois do ocorrido na cabana, fiquei me perguntando se, talvez, nós não tivéssemos nos encontrado com o verdadeiro Rumpelstiltskin, o Senhor das Trevas.
[Tortura encarou sua madrinha como se não estivesse convencida das palavras dela.]
IMPERATRIZ: Eu sei, eu sei! Parece loucura, mas, em um passado distante, quando eu ainda era criança, ele tentou roubar meu sangue. O fato dele ter conseguido ultrapassar as defesas mágicas da casa, roubar nossos olhos e colocá-los em minha coleção pode ter alguma conexão com esse evento passado.
[Tristeza e Ternura descem as escadas, aproximando-se das duas mais velhas.]
TRISTEZA: Além disso, o homem que está na Sala de Desmembramento emana uma energia muito ruim que começou a aumentar após o duende roubar os olhos de vocês.
[Tristeza apontou para o teto e as mais velhas olharam para cima, constatando que um miasma negro pairava sobre o teto da casa.]
TERNURA: É uma energia tão maldosa que todas as flores começaram a morrer. É como se ele estivesse sugando a vida ao redor, mesmo estando morto.
IMPERATRIZ (levemente alterada): Por que vocês não falaram isso antes?
TRISTEZA: Pois só percebemos quando chegamos em casa agora pouco.
TORTURA (com certa relutância): Certo… Consulte Blake, minha madrinha, e veja se ele acha que se trata apenas de um duende normal ou do Rumpelstiltskin disfarçado. Acho prudente chamarmos nossos tios, também.
TERNURA: Para nossa própria segurança, acho que deveríamos fazer algum feitiço para aprisionar a energia maldosa do homem morto.
TRISTEZA: O Triângulo Apocalíptico deve ser o ideal para este caso. Por isso, Tortura e Ternura, comecem a chorar.
[A Imperatriz se afasta das trigêmeas e começa a subir as escadas, pulando alguns degraus para acelerar o processo.]
TORTURA: Aonde você vai?
IMPERATRIZ (já no andar de cima): Vou tentar encontrar Blake, pois, com trinta diabos, eu nem ao menos sei onde ele está!
FIM DO FLASHBACK.
PRIMEIRA CENA: INT. MANSÃO JASON (COZINHA) - NOITE (22H)
Tortura levantou os olhos das panquecas e verificou Ternura pela janela. A mais nova estava brincando no chão da varanda com o gato Salem, sentada sobre uma coberta. Um relâmpago cortou o céu, iluminando toda a extensão da residência, enquanto uma forte rajada de vento fez com que a touca de pompom cor-de-rosa de Ternura saísse voando. Tortura ouviu a Imperatriz soltar uma risada baixa por conta do acontecimento, porém a pequena menina, como se tivesse escutado a zombaria da jovem de cabelos verdes, saltou do assoalho de madeira da varanda, conseguindo recuperar seu gorro. Quando a mesma pousou no chão, foi até a janela e fez uma careta para a Imperatriz, que revirou os olhos para a criança. A mais velha das trigêmeas finalizou a última panqueca e levou um prato cheio das mesmas para a bancada, onde havia um bule de chá, um de leite e um de café, assim como um recipiente com mel, outro com manteiga e outro com uma calda de frutas vermelhas para serem colocados nas panquecas. Ternura entrou correndo na cozinha junto com o gato preto, batendo a porta com força em seguida. Tortura a encarou com reprovação, enquanto tirava o avental e o colocava pendurado em um gancho na parede.
TORTURA: Não é porque estamos com um morto problemático no porão e provavelmente seremos mortas por nossos tios quando eles souberem da enrascada em que nos metemos, que você deve esquecer dos modos.
TERNURA (sentando-se ao lado da Imperatriz, com sinceridade): Desculpe, irmã.
IMPERATRIZ (pegando uma panqueca): Ainda bem que não estarei aqui quando eles chegarem.
TORTURA (servindo um pouco de café e leite em sua xícara, enquanto ri): Se você demorar mais para ir, provavelmente vai encontrá-los.
IMPERATRIZ (pegando um pouco de mel e colocando sobre sua panqueca, com deboche): Está ansiosa para que eu encontre Blake para trazê-lo até aqui?
[Tortura encarou sua madrinha com reprovação, porém seu rosto vermelho a entregou. A Imperatriz e Ternura soltaram uma risadinha de triunfo.]
TERNURA (pegando cinco panquecas e derramando mel sobre as mesmas): A Tristeza está demorando com o namorado, né?! Será que eles beijaram na boca?
[Tortura, que estava tomando um gole de seu café com leite, quase se engasgou com a fala espontânea da irmã mais nova, enquanto a Imperatriz desatou a rir.]
IMPERATRIZ (servindo um pouco de chá em sua xícara): Pela iminente tempestade que está se formando lá fora, acredito que ela deve estar chorando e não beijando o rapaz.
TRISTEZA (com severidade): Você fala demais, Flávia.
[A garota surgiu do corredor e sentou-se ao lado de Tortura. O trio encarava a recém chegada com curiosidade, mas não ousavam perguntar a respeito, até porque estavam mastigando. Tristeza colocou chá em sua xícara, pegou uma panqueca e colocou um pouco de calda de frutas vermelhas sobre a mesma. Após cortar um pedaço da panqueca, levou o garfo até a boca, porém paralisou-o no meio do caminho, tendo em vista que Tortura, Imperatriz e Ternura a encaravam com atenção.]
TRISTEZA (confusa): O que foi?
TERNURA: Estamos esperando você nos dizer se beijou na boca do Jaime.
TORTURA (em tom de reprovação): Ternura!!!!
IMPERATRIZ (dando tapinhas nas costas da mais nova): Muito bem, é desse tipo de sinceridade que eu gosto.
TRISTEZA (com tranquilidade): Nós nos beijamos.
[As outras três arregalaram os olhos, chocadas com a informação. Alguns segundos de silêncio se estenderam até a próxima fala.]
TRISTEZA: Foi meu primeiro e último beijo.
TERNURA (com serenidade, enquanto mastigava): Por que? Ele vai morrer?
TORTURA (semicerrando os olhos): Fale de boca cheia de novo e eu irei enfiar esse garfo em sua garganta, Ternura.
[A mais nova apenas assentiu acerca da ameaça da mais velha.]
TRISTEZA: Ele vai partir. Após a morte de sua avó, ele decidiu ir para o mar. Vai ser marujo no navio do Capitão Jake Turner, não que eu saiba quem é esse homem…
[Tortura colocou uma das mãos sobre o ombro da irmã, buscando confortá-la.]
IMPERATRIZ (pensativa): Que específico… Por que ele escolheu o navio deste capitão? O nome dele não me é estranho…
TRISTEZA: Jaime foi salvo por Jake durante a Revolução dos Hunters, quando era só um menininho. Já que o navio dele está ancorado na costa da Cidadela Submundana, Jaime decidiu aproveitar a oportunidade.
TORTURA (com exasperação): Espera, espera, espera… Jake Turner? Com trinta diabos, aquele Jake?
IMPERATRIZ (surpresa): Nossa, Damon e Blake ficariam contentes por terem notícias do Jake depois de todo esse tempo. Tá, talvez o Damon não ficasse tão feliz, mas...
TERNURA (para Tristeza): E como foi o beijo?
TRISTEZA (com sinceridade): Triste, muito triste… Mas prometi a ele que, quando eu ficasse mais velha, iria encontrá-lo. É muito ruim dar adeus a quem amamos…
[Todas as presentes, compreendo a dimensão e profundidade da fala de Tristeza, apenas ficaram em silêncio e assim terminaram a refeição. Às vezes, a garota de pele pálida fungava, como se estivesse segurando o choro, mas o que quebrava a quietude melancólica eram os talheres da Imperatriz, que pareciam estar riscando o prato azul que ela usava para comer. Após dez minutos, um relâmpago atingiu a grama do quintal e todas se sobressaltaram.]
TRISTEZA (exasperada): Não fui eu!
IMPERATRIZ (levantando-se de seu banco e caminhando até a janela): Não, não foi você…
TERNURA (ao lado da Imperatriz): Foi um sinal da própria natureza para nos alertar que Rumpelstiltskin está se aproximando. Eu posso sentir...
[O quarteto abandonou as coisas como estavam na cozinha e, sem perderem tempo, foram até o hall de entrada. Ternura decidiu que iria tentar encontrar Blake através de um feitiço de localização chamado Encontre-me se For Capaz. Com o auxílio de um mapa e uma foto de Blake fornecida por Tortura, ela recitou as palavras do feitiço. Após alguns minutos, o papel do mapa resplandeceu sobre um local específico.]
IMPERATRIZ (com a sobrancelha arqueada): Romênia? O que diabos Blake está fazendo lá?
TORTURA (suspirando): Ele nasceu lá.
TRISTEZA: Para qual lugar da Romênia a Imperatriz deve ir, Ternura?
[A mais nova fechou os olhos, enquanto uma gota de suor escorria pela lateral de seu rosto, pois tamanho era seu esforço ao executar o feitiço.]
TERNURA: Mansão… de Black. Fica ao lado do Bosque das Flores.
IMPERATRIZ (com a feição confusa): Isso só fica mais estranho!
TORTURA (sorrindo de canto): Foi nesse lugar que ele cresceu…
[Ternura parou o feitiço levemente ofegante. Após se recuperar, ela deu algumas instruções para a Imperatriz.]
TERNURA: Você vai ter alguns problemas para chegar até lá. Há muitas proteções mágicas perto da mansão que podem acabar te levando para locais distantes. Por isso, fique atenta quando começar a ver coisas estranhas, semelhantes a alucinações, e nunca se esqueça do seu verdadeiro objetivo: encontrar Blake.
[As últimas palavras de Ternura soaram como um encantamento e a Imperatriz sentiu que elas haviam adentrado sua mente como se fossem diversas abelhas.]
IMPERATRIZ: Não esquecerei! E, Ternura, não se esqueça de lavar o prato azul.
VOZ DE FUNDO: A Imperatriz partiu em busca de Blake através de um portal aberto pela mais nova das trigêmeas, que não compreendeu bem a mensagem por trás das palavras da jovem. O que o prato que ela usou para comer as panquecas tem a ver com todo o resto?, pensou Ternura. Após a partida da jovem, Tortura, Tristeza e Ternura permaneceram juntas na Sala de Chá Vermelha, aguardando que seus tios chegassem.
FIM DA PRIMEIRA CENA.