Emergida em águas profundas
Nunca vi tanta vastidão
Em um único lugar
Me pergunto se um dia
Conseguiria alcançar o fundo
Desse oceano
Que as lágrimas formaram ao redor de mim
Como fendas submarinas
As feridas que nunca cicatrizam
Brilham sob a pele negra e descamada
Ainda dói, não vou negar
Ainda dói ser lançada
Ser jogada
Ilhada abaixo das águas
Engolida pelo Atlântico
Que eu mesma criei
Sou eu, o Kraken
Que devora as esperanças
De um dia conseguir viver na superfície com os demais
Sou eu, o Poseidon
Que se esconde no mar
Rodeada de pérolas
Que criei
Pérolas estas, lágrimas em forma de versos
Que nenhum marinheiro
Conseguiu resgatar
Eu, sereia
Condenada a um mundo
Que nenhum humano
É capaz de compreender
Sou eu, Altântico
Que chora
E ninguém vê
Porque o mar é feito de água
Água que ninguém nunca perguntou de onde veio
E porquê
Que um dia
Sopre em mim
O desejo de ser
Aquilo que um dia inundou meu coração
.
.
.
.
___________________