Há tempos eu já previa como esta batalha seria, tinha sonhado, e a vidente, havia dito.
Ainda sim, me ergui da cama sem temer, e fazia tranças nos cabelos, para que assim ficasse mais dificil de um inimigo puxar meus cabelos, colocava braçadeiras, a roupa de lã grossa, o calção e as botas pesadas, a armadura de couro e por ultimo, segurei firme minha espada e escudo.
_ Sabe que se ir, não voltará para casa. _ disse minha mãe, que nao desviou os olhos da roca, onde tecia a lã.
_ É o destino, os deuses quiseram assim _ disse, indo até ela, segurei seu ombro, e ela parou seu movimento repetitivo. _ Se não voltar, me enterre ao lado de Yjord.
_ Só isso? _ ela me disse, sem me fitar.
_ Sim.
Me afastei, e fui para fora de nossa casa, olhei pela ultima vez, uma casa de madeira, palha e suor, o sangue de meus pais que deram seu melhor pelo lar que construiram, meu pai, já em Valhalla, sentiria orgulho da filha que não mais temia a morte.
Minha mãe queria que eu tivesse outro destino, talvez tivesse, se Yjord estivesse vivo, mas os ingleses o tiraram de mim na ultima batalha, há quatro anos, eu ia me casar com ele, dar a ele nossos filhos, e envelhecer ao seu lado até que chegasse nosso tempo. Mas os deuses não quiseram assim.
Hoje, eu vencerei, ou então, as valquirias me levariam para junto dele, nos grandes salões. Não perderia nada, de qualquer maneira.
Subi em meu cavalo, e sai daquela vila, onde sonhei, vivi, e talvez não veria nunca mais, ainda sim, me recusei a olhar para trás mais uma vez, agora, o destino era a floresta, onde meus companheiros e companheiras estavam.
Senti o frio da floresta umida, o frio da morte, o cheiro doce das arvores, junto das flores, ironico, como a morte e flores tem cheiros parecidos.
Quando estava perto, ouvi gritos, pedidos ao Deus deles e aos meus, espadas uma contra a outra, o bradar dos escudos, era onde eu deveria estar. Desci do meu cavalo, e me despedi do companheiro de montaria, segui o restante do caminho a pé, calma, como em uma caminhada.
Adentrei as arvores, andei sobre o pequeno riacho, sem medo de me molhar nas aguas gélidas, que logo ficariam rubras com sangue, e então adentrei a batalha, sem medo.
Ataquei furiosamente, até antes do riacho, eu era Tviari, agora, sou apenas uma guerreira, que matará, até o momento que morrer.
Senti o sangue quente do inimigo escorrer sob minha espada, assim como seu cheiro metalico, corri, desviei, atacava novamente outro oponente, sua armadura de placa, tão rigida como a mais forte das pedras era quase imbativel, atacava então as areas frageis, como axilas, atrás de seus joelhos, sua virilha. Tudo que podia alcançar.
Em cada inimigo derrubado, via a figura do meu amor, mais perto, sentia que segurava seu machado e gritava ao meu lado, como sempre foi.
Ouvi o comando dos homens inimigos, não entendia sua lingua, mas entendia sua ira.
Senti flechas atingirem escudos, pessoas amigas caindo em desespero, outras rancando com suas mãos as flechas inimigas, tentando se erguer mais uma vez, e eu ainda sim avançava, sabendo do destino, o abracei.
Depois de inimigos abatidos, um deles atingiu-me com sua flecha, em meu braço, gritei, quebrei a flecha ali mesmo, senti quase a sensação de queimar em brasa, quando a ponta não saiu, ficou alojada. Mesmo assim corri para fora do seu alcance.
Apenas via a dor, as visceras, o bradar, o gemer, o gritar, o cenário da guerra, como ela nunca deixou de ser.
Foi quando fui até um guerreiro, que atacava uma companheira, senti sua furia em minha direção, ele me fixara como sua rival, ali e agora, todos ao meu redor se tornaram nublados, de longe eu vi, sem seu capacete perdido em batalha eu vi aquele homem, e aqueles olhos azuis, um deles, se encontrava em um tom pálido, cego.
O homem que tirou o melhor de mim.
Ele girava sua espada de duas mãos, e eu avancei, aos berros, sentindo as lágrimas cortarem meu rosto, desviava-me, cansada, a flecha alojada em um dos braços, causava-me dor insuportavel, não maior do que aquela que meu coração sofrera.
O homem, furioso, atacava-me, feria-me, e então perdi meu escudo.
agora, sabia, eu estava morta.
até que, em um ato de loucura, larguei a espada, peguei o punhal e corri em direção a sua lamina, encravando a lamina pequena que tinha em sua garganta, e a lamina dele, trespassou meu peito.
sorri, sentindo o gosto forte de sangue em meu rosto, pelo sangue dele que jorrava, e do sangue meu, que inundava a minha boca.
cai, e ele caiu.
senti felicidade, pela primeira vez.
e uma mão doce me puxar, eram as valquirias
elas me levariam para casa.