Manhã em Bucareste
Holzwarth
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 03/04/23 18:54
Gênero(s): Crônica
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 1
Comentários: 0
Total de Visualizações: 462
Usuários que Visualizaram: 5
Palavras: 375
[Texto Divulgado] "Não Pare de Olhar" Uma mulher, isolada em seu apartamento, começa a acreditar que está sendo observada por alguém no prédio em frente. A paranóia começa a crescer levando o limite entre sanidade e loucura se tornar cada vez mais tênue.
Não recomendado para menores de dez anos
Notas de Cabeçalho

Eu tinha planos muito maiores para desenvolver o assunto central desse texto, tanto que cheguei a idealizar ele três vezes, em três versões, cada uma com sua proposta. Não dei muita continuidade ao conto maior, porque não consigo passar do segundo parágrafo sem perder o ritmo inicial que eu queria dar para a narrativa, então ia ficar tipo aquele desenho do cavalo que tem só a cabeça super realista e o resto do corpo é todo troncho. Dei especial atenção para essa versão porque queria algo que pudesse dialogar melhor com esse quadro que pintei há um tempo — e como sempre quis usar esse título, a oportunidade me pareceu boa. Espero que o vejam com bons olhos e não como um cavalo que é troncho por completo.

Capítulo Único Manhã em Bucareste

O céu ainda é o mesmo. O tronco também. O lago também. Os patos também. A lebre também. Os juncos também.

O crepúsculo espera por você para começar a descansar. O sol ainda não se pôs no dia em que você foi embora. As árvores que marcamos com tinta ainda estão ao lado do tronco que deixamos para trás. O filme da máquina ainda nos desenha em negativos empoeirados. E isso foi tirado de nós. Você lembra? Você se lembra do que você tirou de mim? A felicidade nunca chegou a encontrar um lugar para descansar na varanda do meu peito, mas, para você, a porta está sempre aberta. E mesmo que eu saiba que você nunca vai vir, eu ainda sento na sala. Eu faço café. Eu ligo a nossa música favorita. E eu sento no banco, ao lado da janela, assistindo ao sol se pôr atrás dos montes onde Eco ainda se lembra dos nossos últimos dias. Eu ainda espero você bater à porta.

A lebre ainda te espera do outro lado do quintal. As borboletas também, mas você nunca gostou delas: lembro que você sempre preferia cuidar da lebre do outro lado da cerca ao invés de olhar, por um segundo que fosse, as flores no nosso jardim — repletas de asas muito mais coloridas do que as patas e as orelhas do animal no gramado. Quando me viu, a lebre ficou parada. Comeu grama. Foi embora.

É de manhã aqui em Bucareste, e a Piața Revoluției está maravilhosa. A porta está aberta — e eu não tenho nada que possam tirar de mim. Você se lembra do que você tirou de mim? Foi no dia em que as estrelas caíram e o céu escureceu. Foi no fim de tarde em que nadamos no lago. Não me sobrou mais nada quando voltei para casa, mas deixei a porta aberta caso queira voltar. Sei que nossas iniciais pintadas nas árvores não são mais as mesmas e que nas fotos não somos mais nós dois, mas quando me sento na sacada e olho a catedral, ainda me lembro do céu e do tronco e do lago e dos patos e da lebre e dos juncos. A porta está aberta, e eu ainda tenho o dia inteiro.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Piața Revoluției: Praça da Revolução

Apreciadores (1)
Comentários (0) Ninguém comentou este texto ainda. Seja o primeiro a deixar um comentário!