Flechada torta
maddie
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 05/03/23 12:04
Editado: 05/03/23 15:32
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 6min
Apreciadores: 0
Comentários: 0
Total de Visualizações: 282
Usuários que Visualizaram: 1
Palavras: 742
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Flechada torta

Um cupido de mira questionável e um fim de tarde tedioso

Por incrível que pareça, o Dia de São Valentim é um dos dias mais parados para os cupidos, anjinhos que voam por aí com o objetivo de criar paixões que evoluem para amores. Isso porque os casais que estão juntos já estão apaixonados, os que não estão namorando muitas vezes têm motivo para não estarem e, mesmo para aqueles que sobram, são poucos momentos propícios para rolar um romance. Por isso, apesar de estarem sempre alerta para alguma boa oportunidade de casal, dois cupidos estão… brincando com as flechas.

— Ei, Eros, aposto que eu acerto essa flecha no meio dos adornos daquele poste!

Cupido, aquele primeiro de seu nome, que dá nome ao cargo, voa serelepe entre as nuvens, o arco já mirando na direção dita. Eros encara, metade dele querendo botar pilha e metade dele querendo cumprir seu dever angelical. Os cupidos não devem sair por aí atirando flechas à toa… mas já que Cupido insiste.

— Duvido!

Era tudo o que Cupido queria ouvir, o sorriso crescendo de orelha à orelha e as mãos soltando a flecha habilidosamente. Ou melhor, não tão habilidosamente assim quanto ele esperava.

A flecha bateu nos estreitos adornos do poste, voltando pra trás com o dobro de sua velocidade. Uh-oh, chiaram os dois cupidos. Flechas angelicais tem disso, costumam rebater nas coisas. E, de coisa em coisa, chegam em alguma pessoa.

Pessoa essa que era apenas uma jovem desavisada, andando na calçada naquele fim de tarde com algum destino incerto. Blusa branca, blazer marrom, calça jeans e lindos coturninhos pretos, o belo rosto adornado pelos cabelos escuros e longos, esvoaçantes com os ventos daquela tarde. Karina, ou Rina para os mais próximos (e cupidos gostam de se achar incrivelmente próximos de toda a humanidade), foi pega pela flechada torta no momento menos propício para romance que algum cupido já presenciou.

Como flecha de cupido só para depois de uma paixonite, depois de acertar certeira o peito da garota, ela continuou pulando por aí até achar um outro jovem que saía da cafeteria bem em frente ao tal poste, que nessa hora recebia xingos de Cupido que poderiam o custar suas asas. O jovem em questão, Jorge, por sinal, muito bem apessoado e vestido feito um modelo de grife de gala (quiçá o fosse mesmo!) foi pego de supetão, quase derrubando a bandeja cheia de cafés que levava consigo.

Depois dos dois pombinhos atingidos, aí sim a flecha dourada e metafísica voltou à aljava de Cupido. Mas, no momento, o cupido se interessava muito mais em ver os efeitos de sua burrada (até para ter noção do esporro divino que tomaria no final do turno). Eros assistia tudo como se visse uma novela, tanto quanto aos atingidos, quanto à Cupido.

E os atingidos em questão tomaram um longo minuto se olhando em silêncio. Karina tinha seus grandes olhos de jabuticaba arregalados, as bochechas levemente coradas e um ar de protagonista de livro de romance. Jorge, por sua vez, a olhava com um leve sorriso, de quem encontrou por quem passou a vida toda procurando. Eles se olhavam como se suas pupilas fossem dois coraçõezinhos, especialmente Karina, porque a primeira flechada sempre é a mais forte.

Antes que qualquer um pudesse quebrar o silêncio ou se aproximar (afinal, isso tudo era a uns bons 10 metros de distância), uma outra garota chega por trás de Karina, a abraçando e chorando as pitangas do quanto sentia a sua falta e de como ela estava atrasada. Como se saísse se um transe (até porque foi praticamente isso), Rina voltou à si, retribuindo o abraço e justificando que o trânsito estava péssimo por causa da chuva de mais cedo. De mãos dadas e juntinhas, elas entraram na livraria do lado onde Rina estava parada, enquanto Jorge observava com cara de cachorro pidão. Mais uma paixonite fracassada do coitado.

Eros observou um pouco mais de perto, constatando que Rina estava num encontro bonitinho e num namoro fofinho. Olhando um pouquinho mais, descobriu que ela sequer gostava de homens. Ou seja: flechada torta, mas inválida.

— Ah, ela é lésbica! — Suspirou aliviado com uma mão no coração. — Ainda bem. Quase que você vai de Recursos Angelicais!

— Menos mal. — Cupido deu de ombros. — Agora, espia, vou acertar uma flecha bem ali no meio da correntinha que segura o sino da igreja!

Eros revirou os olhos, mas sorriu divertido.

— Ai, ai, e lá vamos nós.

❖❖❖
Notas de Rodapé

escrita para o desafio dreamiesvalentines: https://yo-dreamzone.tumblr.com/post/709229796997169152/dreamiesvalentines

Apreciadores (0) Nenhum usuário apreciou este texto ainda.
Comentários (0) Ninguém comentou este texto ainda. Seja o primeiro a deixar um comentário!

Outras obras de maddie

Outras obras do gênero Comédia

Outras obras do gênero Fantasia

Outras obras do gênero LGBT

Outras obras do gênero Romântico