Abraços sempre tão nervosos, inexatos; abundantes de palidez raquítica, alternados e alterados em brumas brancas que nada trazem ou levam, permanecem ou transformam, lembram, esquecem — estendem, retraem, introduzem ou extraem. Tão alvos, beirando o translúcido, mas nem sempre castos, quase nunca virginais; lactescências do seio de uma prostituta corroída pela genital ferida ou, mais profundamente, o gozo de um doente cadavérico.
Abraços, sim, sempre fascinantes, despertos ou dormentes — por vezes mórbidos, por vezes lascivos até a morte. Letais quando flexionam e sufocam, produzem o veneno agridoce do amor: prendem, esganam, pairam entre a tortura e a crueldade, o desejo imperador que une o desfalecer ao orgasmo do sepulcro — abismo de prazer e trevas, interminável e intermitente, inteiro sem inteirar-se.
Abraços — laços da natureza primaveril. Tentadoras serpes que se enlaçam e procriam, enlaçam e matam, enlaçam e enlaçam, tetanizam, tiranizam. Delírios de uma corte de demências, sedução de pensamentos, atos e imagens a reproduzir no tempo e no espaço… Portal de carnes, primeiro e segundo caminho ao mesmo paraíso do pecado, do paroxismo do momento, existir além do existir.
Abraços… Correções de falhas do indivíduo, uniões dos imperfeitos em defeitos do plano retardado da Criação. Mármore da lápide que une calor e une morte; lua a tocar o mar, sol a tocar a terra: congelamento das róseas, líquidas essências do amanhã, incêndio do futuro verde agora a brilhar em vermelho diabólico. Uma enfim junção, filtro da solidão impura do ar de cada um — um respirar simbionte ou, tristemente, afogar solitário.