Julie era amável demais. Isso implicava numa série de coisas, incluindo muitas caraminholas que disputavam espaço com os cachos da cabeça de April. Ultimamente, elas estavam ganhando (e seu cabelo estava até caindo).

Para ela é simples(mente complicado demais para lidar): ela é uma bagunça, mas parece calmaria; Julie parece bagunça, mas é centrada como um farol na rocha mais alta de uma ilha em meio a uma tempestade. April sente-se como um barco que foi tentar seguir a luz e deu de cara com pedra, se desmanchando entre ondas. Nada disso era culpa de Julie, só das vãs esperanças de April, e de suas expectativas grandes e erros consecutivos.

Ela não era uma pessoa perfeita, nem boa, e admitia que sequer tentava. Tinha tanto karma acumulado só do Janeiro daquele mesmo ano que jamais esperaria que poderia sanar tudo naquele Dezembro frio. Não que Julie a fizesse sofrer, até porque quando estava com ela tudo parecia desaparecer e só sobrarem as duas. Mas era justamente depois que ela ia embora (ou melhor, quando April ia embora, pois era sempre ela quem saía), tudo voltava a aparecer, inclusive as tais caraminholas. E se ela estivesse bagunçando Julie? Ela a estragaria, ia quebrar seu coração, seu ego e seu espírito em algum momento, sabia disso, e jamais se perdoaria por isso.

No final das contas, April sofria sozinha (e às vezes achava que sofria até porque queria, porque não sabia fazer nada além disso). Sempre uma bagunça, sempre se desmanchando, sempre esperando (e, sem perceber, criando) o pior. E tanto sofreu sozinha que escolheu ficar assim, mesmo a aliviadora (e intensificadora) de seu karma se prontificando a ficar junta. “É melhor pra ela”, pensava, mesmo sabendo que era o pior pras duas, principalmente pra ela. Mas é que Julie era amável demais e April não sentia que merecia amor algum.