Sempre tive bochechas fáceis de se esquentarem, que num instante se aquecem e me deixam rosa feito céu de tarde e às vezes até ficam mais do que rosadas por razão alguma, mas, sempre que olho para você, sinto um arder no meu rosto que jamais senti. Mais forte, mais quente, mais vivo. Mais vermelho, também.
Sempre tive pressão baixa e um coração difícil de se ouvir sem estetoscópio, mas, quando olho para você, ele bate que sinto ele quase fora do peito. Sinto os meus brônquios ao mesmo tempo se fechando e expandindo, meu pulmão lutar por ar e minhas entranhas virarem água fervente. Não é segredo que me desmancho toda vez que olho pra você.
Sempre odiei me apaixonar, me iludir criando contos com ou sem fadas, mas, quando é sobre você, fantasio flertes, galanteios e muitos felizes para sempre (mesmo nem acreditando em sempre). Sempre odiei histórias cor-de-rosa, mas você e sua luz amarela me fazem querer viver uma vermelha. Eu, que sou verde e nunca concebi nada que fosse além do cinza em minha vida, me vejo perdida num caleidoscópio tricromático. Não sei o que fazer com tanta cor.
Aliás, cada coisa sobre você me faz sentir de uma tonalidade. Você me muda de verde, azul, laranja, roxo, amarelo… Você me faz sentir como um arco íris, no bom e no mau sentido (você dá a chuva e a luz do sol). E eu amo todas essas cores e os nomes que damos juntos a elas, mesmo que eu ainda não saiba lidar com isso. Porque, no fim, te amo de um jeito que eu acho que nunca vou saber lidar.
Eu te amo de um jeito que arde meus pulmões. Te amo feito febre e que piora e piora antes de melhorar (e nunca melhora). Feito chuva que deixa o clima mais abafado e fogueira queimando mesmo depois de acabar a lenha. Feito incêndio e explosão, feito gasolina e querosene, pólvora e alcatrão. Uma amor vermelho vivo, não exatamente vermelho sangue e nem carmesim, forte feito aquelas pontadas que me dão no coração quando você solta alguma cantada em momentos que eu não esperaria (feito quase sempre).
Eu não te amo de um jeito bonito, peço até desculpas, mas não consigo remediar. Te amo de um jeito que dói, sangra, machuca, que quanto mais atadura coloco, menos cicatriza. Feito o último estágio bem no finalzinho, feito eu não conseguir me levantar da cama, feito fraqueza mórbida. Eu te amo do único jeito que eu sei amar — e, se tudo o que eu conheço é dor, não sei porque um dia esperei algo diferente.
Eu te amo de um jeito que incendeia meus pulmões, minha garganta, minha mente, minh’alma. Te amo como fogo e não se acaba. Mas é nessa braseira vermelho-nós (aquele vermelho que é a junção do amarelo-sol-você e do verde-meu) que eu me sinto em casa. Sei que te amo de verdade porque queima e porque alguma parte de mim sempre esperou queimar.