Apanhou a folha já escrita e deixou a feição de desgosto desenhar a sua face. Descontente, amassou a folha e jogou a bolinha de papel; ela caiu juntamente com as outras espalhadas no chão. Ele olhou para o seus rascunhos incompletos e suspirou cansado, devido a mais uma frustração.
Apanhando mais uma folha em branco, o jovem escritor tenta voltar a concentrar-se, mas sua mente parecia estar coberta por uma névoa, pois não conseguia pensar em nada, absolutamente nada, para escrever. Já exausto, olhou para o céu noturno e pôde contemplar os pequenos pontos cintilantes que enfeitavam o firmamento.
Seus cabelos balançavam graciosamente, devido a uma leve brisa que soprava fracamente de sua sacada. Ele ponhou seu cabelo, que escorregava em frente ao seus olhos, atrás de sua orelha, achando-o longo demais, no entanto, não tinha a menor coragem de o cortar.
Desviou o seu olhar para a pequena xícara de café, que esfriava ao lado de seus cadernos de anotação, apanhou-a com os seus dedos longos e pálidos, levando-a em direção ao seus lábios finos e rosados, umedecendo-os. — Suspirou de satisfação ao sentir o gosto amargo do café atingir as suas papilas gustativas. Ao afastar a pequena xícara de seus lábios, escutando o som baixo de música clássica que saia de seu pequeno rádio. Com a xícara ainda em mãos, levantou-se da cadeira estofada e caminhou lentamente em direção a sua sacada. Seus passos eram calmos e graciosos, era como se flutuasse pelo piso de porcelanato.
Já do lado de fora, seus olhos castanhos se erguem para o céu mais uma vez, fitando sua imensidão negrume e brilhosa, que lhe transmitia uma calmaria extraordinária. Encostando-se na mureta, inclinando sutilmente o corpo sobre a mesma, buscou terminar a sua esquecida xícara café em um único gole.
O jovem desejava ardentemente, tão intensamente, apenas um fragmento de criatividade para dar continuação em suas obras; foi com esse pensamento enraizado dentro de si, que ele pediu a uma estrela cadente que rasgou o firmamento por milésimos de segundos.
Suspirou mais uma vez, com os olhos fechados tentou buscar algumas ideias em sua mente vazia, mas a única coisa que conseguia captar era o som baixo de umas das sinfonias de Beethoven. Até que uma risada baixa e melodiosa ecoou levemente, como um sopro de um vento, chegando até o seu coração. Assustado, olhou para todos os lados em busca do som encantador, até que, mais uma vez, a leve risada ecoou. Erguendo os olhos escuros, o jovem a viu; saltitando pelas estrelas, ela sorriu e pegou uma com suas pequenas mãos e a jogou longe, fazendo assim a pequena estrela rasgar o céu.
Atordoado, acreditando ser apenas um sonho, segurando a xícara firmemente com as suas mãos trêmulas, ele não pôde deixar de admirá-la com profundo encantado. Sentiu se libertar do choque, voltando a raciocinar, desejou uma folha de papel e uma caneta, para descrever a sua mais nova fonte de inspiração: um anjo.