Tento pensar, organizar meus pensamentos e me libertar das amarras. O problema é que essas amarras não se materializam, elas são feitas de aço, mas não são palpáveis. Elas queimam, mas não são feitas de brasa. Elas cortam, mas não são afiadas. Elas apertam, mas não estão justas.
A cada dia que passa eu acho que estou presa em mim mesma, nas coisas que eu criei e nas coisas que quero ser. E acho que é esse o motivo das amarras serem eternas: elas são costuradas pelos fios do passado e suturadas com técnicas do futuro. Sempre que quero andar, estou presa à essa âncora infernal do que já fui e do que já passei. E sempre que quero jogá-la fora, tenho vislumbres do que serei e o que posso perder caso não me lembre de onde vim.
E sabe, eu acho que o pior de tudo não são nem as amarras. Aos poucos eu me acostumo. O maior e central problema? Eros. Gostaria de saber quem foi que cedeu o título de belo para o meu carcereiro. Sempre ouvi dizer que ele é lindo, que ele é belo. E eu já até pensei isso, no passado. E até já desejei tê-lo, no futuro. Mas em todas as narrativas e linhas do espaço tempo: acaba em desprazer. Eros é filho de Ares e Afrodite. Guerra e Amor. Seria por isso ele tão revoltado? Seria por isso que ele me condenava a uma guerra eterna contra mim mesma?
A quem eu quero enganar... nem eu sei porque estou aqui. Eu não sei o que sinto, por quem sinto. Por quem quero sentir. Como eu me sinto no direito de esperar coisas boas, de pedir milagres... se eu nem sei o que quero? Coisas boas acontecem comigo e sou grata por isso. A partir do momento que desejo com o coração, as coisas boas chegam. Mas como eu vou esperar por algo que não sei o que é? Passado e futuro agora são uma coisa só. Amor e guerra ecoam em uníssono. Amarras que sufocam, facadas que suspiram, mãos que acariciam e beijos que não são dados. Dúvidas que não são respondidas, amores que não são vividos e lugares que nunca chegarei. Como lidar com tudo isso, se nem sei quem sou?