Na estrada pra cá vi um gatinho atropelado. Estava todo amassadinho, todo arrebentado. Era atropelamento fresco, quem sabe coisa de um minuto, daí que não fedia, mas… havia pedaços de miolos pra fora e umas tripazinhas escapando pelo cu… É forçoso que federá daqui a algum tempo.
Uns e outros carros ainda passavam por cima dele, e ninguém mais parava pra dar uma espiadinha. Pra que espiar, afinal? Não havia nada demais ali — todo dia uns dez gatinhos são atropelados por perto, e vá lá saber quantos não têm a cabecinha esmagada por aí. Ao menos esse parecia dos sortudos: não deve ter sentido a coisa. Um dia vi um cachorro agonizando no meio da pista, babando sangue e gemendo… A patinha traseira não parava de mexer, e a barriguinha meio esfolada subia e descia frenética, errada, inchada onde não devia e com uns buracos estranhos…
Certa vez vi mesmo até um homem. Esse muita gente tentava ajudar. Massageavam, enfaixavam e mais o diabo sabe o quê. Recordo que no fim levaram o infeliz numa ambulância, e nunca mais ouvi falar do que aconteceu. Não acho que tenha sobrevivido, pra dizer a verdade: havia qualquer coisa que não parecia ser só carne no asfalto. Lembro que cutuquei com um pedacinho de madeira, e foi engraçado… Fazia chomp chomp e era molhado, bem molhado…