Envelhecer sempre foi um problema. Pensar nisso traz um peso em meu peito que aumenta gradativamente com passar dos anos. O real ponto é que nunca planejei chegar tão longe e, de fato, não programei o depois dos dezoito. Agora me prendo aos preparativos para os vinte e sete, como um rótulo numa lata estufada, está na validade e mesmo assim não fica na prateleira.
É um sentimento quase padrão sentir-se velho, seja pelo cansaço quanto pela maturidade, mas é diferente quando se torna real. Não só estar velho, mas ver que as coisas ao redor também mudaram com o tempo e seguiram o rumo natural. Eu continuo parada, esperando um motivo que justifique minha incapacidade e falta de vontade.
Me arrependo de acreditar que conseguiria acabar com tudo tão cedo, nunca pensei num plano B. Mesmo em um relacionamento que era saudável e feliz, ainda mantia esta pequena data no calendário como um lembrete do fim até decidir esquecer. Cá estou.
Não consigo dizer em qual momento acreditei que o tempo esperaria por mim, que fazer vinte e dois anos seria uma miragem distante e continuamente eu estaria com dezesseis. A vida traz marcas que impedem a inocência e nos priva do conforto que é ser jovem e apaixonado pela existência.
Consigo me lembrar do exato momento em que me vi adulta. Tenho sérios problemas com vícios intermitentes, nunca fui de beber mas sustentava empresas de cigarro. Era um acessório para meu visual, o complemento ideal. Neste dia chovia e decidi não tirar o uniforme do trabalho para ir ao ponto de ônibus. Lembro de um carro preto parar em minha frente onde pude ver meu reflexo destruido, cansado e sedento pelo pedaço de nicotina que defumava meus pulmões. Eu estava no fundo de um poço diferente, como se tivesse decido descer até lá por não saber o que fazer.
Foi simples sair dele mas não parar de encara-lo continuamente. A falta de expectativas e metas é confortável, até escutar seus pais sugerirem que saia de casa. Ser andarilha nunca foi tão atrativo.
Este texto não tem desfecho e munca terá, a gravidade insiste empurrar minha pele e os vincos aumentam com o tempo. Sou um número grande e continuo que só irá parar quando a pilha do cronometro acabar ou eu quebra-lo com uma marreta.
Quem mata o tempo não é assassino: é suicida. Talvez este seja o motivo para estar nesta prisão perpétua. Foram oito mil e trinta e cinco dias. Mais um. Menos um.