As estrelas são feitas de cristais de luz, um brilho congelado que não desfaz; são desejos e paixões que galgam aos céus só para espiar o que quer que nele exista, e no império além do império (além das danças das nuvens brancas e da tela azul do firmamento) morrem e permanecem. Naquele plano são sempre frias, sempre o que são e jaz em tumbas além das tumbas, solidão além da solidão. Onde nada é nada e tudo é nada elas simplesmente são…
Lá cortejam como se cantassem, mas não cantam; rodopiam na abóboda celeste como se bailassem, mas não bailam; seduzindo e não, não vibrando, não ansiosas do próximo olhar que lhes verá o rosto sempre igual de coisa morta. Lá arcanjos penduram e rebuliçam entre hastes de diamante, e de asas douradas chovem pratas e chove paz sobre os crentes daquilo além daqui; mas não importa: a paz existirá somente na última noite, e todos sabem que é verdade quando os anjos suspiram: “A vida é longa demais”.
Da etérea neve das montanhas cardinais do outro espaço — do não espaço — chove o fogo límpido e leve das coisas nenhumas. É fogo branco, clara fumaça sem fundamento, incenso que não fede e miragem do futuro que passou depressa demais (passado que muito demora a chegar). São ânsias de desejos infinitos e já aplacados pelo impossível; impossibilidades e sacrifícios de mártires daqueles tempos de ninguém; ritos cabalísticos da eternidade que o cosmos dita enquanto os astros assoviam sem preocupação: “Tudo é morto, e tudo morto permanecerá”.
É o brilho do desalento no sonho que sobrevive em formas do original; origem que nunca houve ou poderia ter havido. Reflexo do cristal que é luz primária, mas luz que também sangra como a carne da mulher nunca antes violada, como rio de éter que em eflúvio luminoso faz-se em ondas para transpassar, mas igual aurora sem cor que não encanta não aparenta, não é sentida. Luz, uma última ilusão, um pólen seco das flores nem boas e nem más, semente dos ínfimos espíritos inexistentes e dispersos, inefáveis, idênticos e aéreos unidos a chorar um choro há muito repetido e que afirma: “Tudo existe, mas tudo nada diz e não precisa existir”.