— Cem dias... Era para ser uma data importante, não é mesmo querida? Peço perdão. Não consegui chegar em tempo de fazer uma comemoração adequada. Tudo por conta do meu parceiro de trabalho. Acredita que ele me obrigou a fazer hora extra justo hoje? Ok, eu confesso, realmente quis trabalhar. Você me conhece muito bem e sabe que amo o que faço. Oh, não fique triste, eu também amo você. Me deixa te contar meu dia: Começamos as escavações pela manhã e eu até avisei que tinha algo muito importante marcado para hoje, mas aquele preguiçoso idiota deu de ombros e foi embora antes de eu perceber. Amanhã vou ter uma conversa séria com ele, afinal, é culpa dele eu ter perdido a oportunidade de passar o dia inteiro juntinho de você. Mas como o dia não acabou ainda, me deixe recuperar o tempo perdido. Não será uma festa gloriosa, mas pelo menos poderemos passar as últimas horas do dia nos divertindo juntos.
ED retirou uma rosa meio amassada do bolso e depositou sobre a cama em que sua amada estava devidamente amarrada, amordaçada e vendada. Aquela ruiva de olhos amendoados realmente era especial. Nunca havia passado tanto tempo com uma mesma cobaia. Alguns homens duraram um bom tempo, mas ninguém nunca chegou aos cem dias de “experimentos sociais”.
ED Havia planejado aquele evento em sua mente por diversas vezes, mas graças as trapalhadas do LG, que pegou três cobaias – trigêmeas – de uma só vez e o deixou sozinho enterrando os corpos, acabou não conseguindo fazer tudo o que queria.
Faltava pouco mais de uma hora para a meia-noite quando ED finalmente terminou os preparativos, então não teriam muito tempo. Como o homem de meia idade não poderia fazer tudo o que havia planejado, resolveu pular logo para a parte final do plano.
— Querida e adorada Dasy... Esse nem ao menos deve ser o seu nome, certo? Bom, pouco me importa. Meu bem, todas as portas e janelas da minha casa estão trancadas. Ninguém sai ou entra sem a minha permissão. Quero comemorar nosso dia de forma apropriada, por isso pensei em tudo isso. Eu vou te alimentar, te soltar e te vestir. Depois, vou te dar um tempo para se esconder. As portas estão programadas para abrir exatamente a meia-noite, ou seja, se você conseguir se esconder de mim até lá, eu te deixarei livre para sempre. Mas, se eu te encontrar... Bem, você já sabe o que acontece nessa parte.
A ruiva era guerreira e não desperdiçaria uma chance como aquela, mesmo sabendo que estava em desvantagem e que provavelmente ED não cumpriria sua palavra. Ela precisava arriscar, já que não tinha mais nada a perder. Como prometido, ED lhe ofereceu uma boa refeição e um vestido branco, curto, de alça, todo em renda. A peça estava um pouco encardida e gasta. Talvez fosse da verdadeira Dasy, pensou a ruiva.
Faltando exatamente uma hora para as portas abrirem, ED anunciou o início do evento. Enquanto contava até cem de frente para uma das paredes da sala, o homem imaginava o quanto sua preciosa Dasy deveria estar agradecida pela casa ser grande e existir tantas possibilidades de esconderijo.
O imóvel era muito amplo, de fato, mas possuía apenas um andar. Existiam muitos armários, portas, baús, sofás e camas que se abriam... Parecia até que a casa havia sido projetada para a brincadeira de pique-esconde.
Dasy decidiu se esconder dentro de uma das camas, uma vez que ela pensou que aquele seria o último lugar em que ED procuraria e também pelo fato de que havia uma janela grande o suficiente para ela conseguir escapar com vida daquele inferno.
A intenção do homem não era exatamente procurar a mulher, uma vez que ele poderia simplesmente espera que ela tentasse sair da casa quando as portas se “abrissem”, mas a oportunidade de brincar com o psicológico da ruiva era muito tentadora para ele deixar passar.
— Dasy, Dasy, onde você se escondeu meu bem?
ED começou sua brincadeira vagarosamente. O homem sentou no sofá, tirou os sapatos, as meias, a camisa e a calça, ficando apenas de cueca.
— Hey, Dasy, você prefere azeite ou óleo?
ED levantou, foi até a cozinha, abriu os armários, a geladeira, o forno e, por fim, decidiu pegar uma faca que jazia solitária na mesa de jantar. No percurso, aproveitou para bebericar um pouco do licor de cumaru que escondia no fundo de uma gaveta do balcão da pia.
— Acho que seu coração ficaria perfeito no óleo, mas o pulmão seria melhor com azeite.
ED não era canibal, mas Dasy não sabia disso. O homem andou pela cozinha e voltou para a sala, sempre passando a ponta da faca pelas paredes, fazendo o objeto entoar um cântico fúnebre e macabro.
Enquanto ED delirava, Dasy permanecia imóvel, tentando controlar a respiração. Ela rezava para o tempo passar logo e as portas se abrirem. A ruiva tremia cada vez que ouvia a voz de ED ecoar pela casa.
— O que faria se conseguisse ser livre novamente, amor?
ED continuou falando, entrando nos quartos e se jogando em cima de cada cama. Dasy apertou a barra de seu vestido e fechou os olhos com tanta força que temeu ficar cega, quando ED enfim pulou sobre a cama em que ela estava.
O homem passou a faca pelo colchão e desferiu vários golpes secos no mesmo. Estava tão fora de si que nem sequer lembrava que precisava procurar sua cobaia. Ele apenas levantou cama, tirou sua última peça de roupa e correu para a sala novamente, rodopiando e gritando o nome de sua amada sem parar.
Enquanto ED vivia seu próprio ato, o relógio anunciou o fim da caçada e o homem pareceu voltar aos seus sentidos, correndo prontamente para o quarto onde sabia que a moça estava escondida.
Dasy já havia saído da cama e estava com a mão na fechadura da janela, mas nada aconteceu, ela nem sequer conseguiu mover um milímetro da fenestra. ED invadiu o quarto, Dasy saltou pela cama e correu para a sala, sendo seguida por seu predador.
— Dasy. Minha preciosa Dasy! Você sempre será a melhor dentre todos. Eu te amo!
Antes que a ruiva alcançasse a porta de madeira, ED enfiou a faca em suas costas e a puxou pelo cabelo. Os dois rolaram no chão, deixando manchas de sangue no carpete. A luta durou alguns longos minutos, mas ED era maior, mais forte e empunhava uma faca. O homem desferiu 29 facadas em sua preciosa cobaia, enquanto Dasy conseguiu apenas arranhar levemente o rosto de seu assassino insano.
Com a moça já sem vida, ED cortou vários tufos do cabelo ruivo e os usou para se masturbar múltiplas vezes seguidas. O homem ainda ficou algum tempo ali, deitado, inalando o odor de ferro que emanava do corpo, antes de se inclinar para cheirar o vestido de renda que a falecida usava.
— Dasy... DASY... Como você pode fazer isso comigo? Cento e um dias se passaram e eu acreditei que você era especial, mas você não passa de uma vadia IMUNDA!
ED cuspiu no chão, levantou, lambeu sua faca ensanguentada, sentou no sofá e começou a rir descontroladamente, enquanto lágrimas dançavam com o sangue de suas bochechas. Daquele dia em diante o homem nunca mais conseguiu uma cobaia que durasse tanto quanto a ruiva, e aquilo o deixou ainda mais louco. ED e LG foram presos três meses depois do ocorrido e condenados à prisão perpétua pelo assassinado de 29 pessoas.
Mas ainda não terminou, pois logo surgiram outros como eles,
escondidos sob o mesmo manto, o mesmo nome, a mesma insanidade e
a mesma sede de sangue.