As ondas sonoras dos auto falantes ressoam através do clima abafado como correntes preguiçosas num rio. Num tipo Amazonas, que de fora parece calmo, mas de dentro te puxa com uma correnteza violenta. Ali, a correnteza violenta é de um mar de pés e saias a balançar.
O vai-e-vém dos pés e o movimento dos corpos pareciam ondas, daquelas que a gente sente depois que sai do mar, e isso era inebriante para Maria. O calor fazia seu corpo suar, e ele só aumentava com a proximidade de Beatriz, com seus cabelos negros soltos e grudando, tanto nela, quanto em Maria, por conta do clima quente. Mesmo molhados, os fios ainda exalam aquele cheiro característico, do creme que ela tanto gosta do cheiro. Maria queria afundar-se neles por todo o sempre.
O som era o som das duas, daquele que se baila da meia-noite à luz do sol sem enjoar, sem sentir as pernas doerem, sonzeira. Ainda assim, da cabeça de Maria, o som nem faz mais sentido, pois ela só pensa em declarações de amor:
“Porque amo teus olhos, brilhando laranjas ao pôr-do-sol. Porque amo a tua pele a bronzear na praia. Porque amo tua boca, a cochichar canções de amor ao pé de meu ouvido e depois selá-las como uma promessa em meus lábios. Porque amo teus cabelos de sereia, que se enroscam em mim e me puxam cada vez mais pra você. Tu me faz sentir em casa; no mar. E quando toca aquela pra gente, no balanço de nossas pernas e de tua saia, eu amo-te ainda mais.”
Mas nada saía de sua boca, senão um murmurar da melodia. Beatriz olhou-a nos olhos, como que lendo seus pensamentos através da música, e sorriu, fazendo as juras dela. Nada precisou ser dito, senão o que seus corpos já diziam através do vai-e-vém.
Vou-e-venho, mas te amo.