Sempre fui bonitinha demais, pra tanta coisa ruim que tem dentro.
Ah, se todos soubessem.
Tenho pena da minha alma.
Mas não mais, que das deles.
Posso estar me vendo como algo muito relevante, muito importante...
Eu paro de seguir pessoas feias, me irrito com as babaquices, com as caretinhas fofas nos vídeos, com as piscadinhas angelicais, com as tentativas falhas de parecerem bonequinhas, tudo tão forçado.
Mas eu sou hipócrita, coloco meu blush rosa, só assim consigo me sentir um pouco mais bonita.
Só que ultimamente até mesmo o blush rosa, me faz sentir horrorosa, feia, podre, lixo, verme, monstro, ruína, catástrofe, todas as energias ruins, encrencas, merdas, chorumes, e um bilhão de palavras feias, fedorentas, que vocês podem se esforçar para imaginar.
Não sei como mudar isso.
Não tem oração, guia, professia, escolha, acolhimento, amor, paz, milagre que possa fazer eu me sentir diferente do que sou.
Um monstro bizarro, vestido de mulherzinha.
Me lembro dos desenhos violentos, que eu desenhava em segredo quando criança, professoras zumbis, formas malucas, cores que remetiam à fedor e solidão, sombras, rabiscos, morte, páginas rasgadas e tingidas de vermelho, era isso que eu queria fazer com a minha pele, rasgar, triturar...
Talvez não a minha, mas as deles.
Pareço uma vítima da humanidade, não é?
Coitadinha de mim.
Não precisa ter dó ou empatia.
Não funciona.
Cheguei a rasgar minha pele algumas vezes, lembrei disso, pois faz tempo que não tomo tanto sol e as cicatrizes estão reaparecendo - malditas - ou meus olhos estão se lembrando e enxergando o que nem está mais aqui.
Mas está sim.
Os últimos eventos mundiais, sensacionais, me fazem ter duas conclusões: todo mundo se importa, ninguém se importa.
Deve ter algum nome nerd pra esse fenômeno.
Deve existir uma palavra bem suja e ética pra tudo isso.
Se eu pudesse me descrever seria isso: suja e ética.
Uma aberração não precisa fazer sentido.
Eles devem ter sabido, quando eu nasci.
Tempestade, hospital parecendo um açougue, depressão puérpera, visões de fim de mundo, solidão feminina, máscaras caindo, alcoolismo, mais barulho, mais mudanças, e mais mudanças e um bebê, e outro bebê e um bebê cuidando de outros bebês, pois assim tinha de ser, pra gente conseguir sobreviver.
Monstros como eu, só podem sobreviver mesmo, e colar a máscara bem firme no rosto, pra não cair.
E só cair, quando escreve. Quando relata, quando cospe, quando surta.
Como deve ser.
Devem ter se tocado de que por mais que eu tivesse sido desejada, fizeram um desejo errado.
E estou aqui.
Meu desejo de Halloween, é que consiga cortar raízes, há muitas, me prendendo, me sugando, me moendo, me sufocando, pode parecer tão bizarro, tão arrogante, tão ingrato, mas só parece o que os outros se convencem de parecer. O que é: é que é verdade.
Se convencer: teorias da conspiração, que nos prendem em casa, em nossas cápsulas quadradas, em nossas mentes fartas, em nosso dia a dia macabro e triste, o ser humano ama imaginar merda, por isso existe o Halloween - e tanta igreja e tanto coach de internet que nem lava a louça.
Nada é 8 ou 80, é o que dificulta. Mas ninguém parece saber.
Ou, é babaquice de escritora, arrogante, sabe tudo, preguiçosa.
Não quero ter raízes. Quero poder ter tranquilidade pra poder voar e cagar em alguém que esteja passando com sua careca brilhante, lá em baixo...
Mas isso seria vender a alma... Bom, esse desejo eu deixo pro próximo texto de desejos de Halloween.