O reflexo de Selene não a agradava, ainda que fosse belo. Ela não via a casca que todos tanto elogiavam. No vidro frio e cruel do espelho, Selene via refletir aquela que era por dentro — e essa Selene a assustava. A assustava ser assim pra sempre.
Entretanto, havia um reflexo em que Selene se espelhava. O reflexo que vinha acompanhado de orbes castanhas e um sorriso de enrugar embaixo dos olhos.
— Queria ser a imagem refletida nos teus olhos. — murmurava baixinho.
— Lene, você não vê? — sussurrava de volta Amora, com olhos brilhantes. — É exatamente quem você é.
Selene não via.
Não sabia se era por não ser aquela, ou por não querer ver. Mas via que existia alguém que poderia ser.
— Já me contenta ser a imagem que entra em seus olhos. — Beijava a mão da amada. — Segue em meu peito a esperança de ser aquela que eles refletem.
E, embora Selene ainda não se enxergasse como a mulher de seus olhos, já sentia-se muito especial por Amora vê-la assim. Selene esperava um dia poder se ver da mesma forma, tornar-se mais especial ainda. E Amora, com seus olhos cheios de Selene, queria poder ajudá-la a enxergar-se, de fato, assim.