Apesar dessa ser, nem tudo é sobre você, nem tudo era
Luísa tem olhos de vigia, mas o mundo dela se limita a sua própria volta; sua vigília é no espelho, roga a si mesma numa reza baixa (às vezes nem tão baixa).
Durante muito tempo quis cuidar dela, dar meu colo para sua cabeça deitar, estancar as feridas e limpar as lágrimas. Sei que algumas cicatrizes não somem mesmo com a melhor e mais cara pomada que eu pudesse comprar, mas queria ajudar ela a sumir com todas as outras, ou pelo menos esquecer delas por um momento. Eu quis dar o mundo a alguém cujo mundo é seu próprio umbigo, e só percebi quando o vórtice das coisas sobre nós virou só sobre você.
Se não era sobre você, o que você queria, as coisas que você gostava, o que você bla-bla-bla… se não era sobre você, a conversa não se seguia. Tudo que era sobre mim fazia você se esgueirar, evitar esse assunto espinhoso (eu). Entendo, rosas têm espinhos, sabe? Mas saiba que sempre tentei me podar dos meus para você.
Agora, no baú onde uma pilha de coisas relacionadas sobre a gente, eu quero deixar meus livros. Tenho apego a coisas sobre você ainda, e me odeio por isso. Sem espaço no celular e mesmo assim não consigo apagar sua conversa. Você me deixou tão acostumada em pensar em você, que mesmo quando sinto outra dor ela me lembra a dor que você me causou.
“Nem tudo é sobre você,”, sussurrei no vazio das coisas que você deixou. “mas às vezes as coisas são sobre o que você fez.”, quis que você ouvisse. Mas você não ouviu, você nunca ouvia meus áudios.