Pânico.
Cada dia deixa de ser um sentimento e torna-se um sabor pegajoso em meus lábios. Não importa o quanto eu os escove, a sensação de aperto nunca deixa meus dentes. Não gosto desse sabor, meu paladar é sensível.
Pânico.
Tu se vai pela névoa mais uma vez. Eu tento te alcançar, mas caio no chão. Meu joelho se machuca, vejo o sangue manchar meu vestido longo branco. Quando consigo voltar a andar, você já se foi faz muito tempo. Quem te levou, meu amor?
Pânico.
Queria que se tornasse um estranho. Que deixasse de inundar meu passado, meu presente, meus sonhos, meu futuro… Desde que você se foi e ninguém sabe se foi porque quis ou não, eu venho me tornando cada dia mais amiga dele. Não gosto de amizades tóxicas, você sempre soube, então espero que você venha me salvar desta, pois eu não consigo sair sozinha.
Pânico.
Quando penso que há possibilidade de você voltar eu começo a tremer. Não gosto de lidar com luto sem saber que luto é. Não sei se te perdi porque você se foi ou se te perdi porque você se foi. Não tenho esperanças que você volte, não consigo aceitar que você possa nunca voltar.
Pânico.
No dia que teus olhos arregalados se esvaírem da neblina (ou de terra), sei que poderemos ser felizes. Ou quando o meu peito parar de subir e descer tão rápido. Eventualmente as pontas dos meus dedos vão achar os teus na neblina. Eventualmente tu voltarás pela mesma estrada. Eventualmente estaremos juntas novamente, vestidos brancos e laços iguais no cabelo. Eventualmente seremos felizes. Senão aqui, em outro lugar. Sei que há algo que sela nossas almas e nos mantêm juntas, mesmo se hoje for apenas seu espírito vagando por aí de vestido branco. O pânico, talvez.