Em um dos casebres mais pobres de uma vila remota nos confins da Índia nasceu Indira, uma saudável menina, que praticamente já nasceu órfã, pois seu pai havia sido assassinado poucos dias antes de seu nascimento, e sua mãe morrera no parto, por negligência da parteira.
Tudo havia sido combinado, por um rico casal de nobres residentes de Bombaim. O motivo? Eles não podiam ter filhos biológicos, mas uma enorme soma de dinheiro estava em jogo. Procuraram então muito bem em vilas remotas, uma mulher que fosse bonita e saudável, para que pudessem roubar o bebê.
Surya e Dinesh eram os pobres camponeses que tiveram suas vidas ceifadas para que o casal rico pudesse roubar a vida por eles gerada.
O nobre casal, de nobre não tinha nada, pelo menos no quesito de bondade. Desprezavam a pequena Indira, nunca lhe dando nem uma só gota de amor. Passou seus meses de vida como um bebê abandonado, sem sentir o calor do colo materno. E em sua triste infância, nunca soube o que era brincar com seus pais, e muito menos ser amada.
As servas da enorme mansão tinham ordens para não serem carinhosas com a pequena menina. As cozinheiras tinham ordens para prepararem os piores pratos, e darem só os restos e sobras para a pequena Indira se alimentar.
Nas noites frias, dormia sem cobertas e sem abraços. Nas noites de calor, mofava dentro do quarto fechado e sem ventilação. Era uma verdadeira vida de desgraças e sofrimentos. Mas pode-se dizer que foi uma vida curta, pois como presente de aniversário de 7 anos, ela ganhou uma pneumonia que não foi tratada, levando-a ao óbito.
Toda a alta sociedade indiana compareceu ao seu funeral, e seus “pais” choraram em seu caixãozinho, fingindo uma falsa dor cheia de hipocrisia.
Mas a alma da menina estava feliz, podia se sentir livre pela primeira vez em sua vida. Saiu correndo, pulando, sentindo a liberdade do vento batendo em sua face. Momentos depois apareceu uma alma ancestral, carregando uma foice.
Aproximou-se da menina e lhe deu um abraço. Fora o primeiro e o último abraço de sua vida. Indira sentia-se muito satisfeita, alegre por estar morta e finalmente encontrar a liberdade. Olhou para uma borboleta que voava por ali e tentou correr para alcançá-la.
Mas foi segurada pela mão, a alma ancestral não lhe deixou correr.
– Minha pobre criança, sinto muito em lhe informar, mas a liberdade não existe. Quando morremos nossa alma sempre volta ao mundo dos vivos, nós reencarnamos e reencarnamos e nunca nos lembramos das existências anteriores. É a roda do Sansara, e não podemos escapar dela, este é o nosso ciclo de sofrimento.
– Mas eu não quero viver de novo, eu não quero sofrer mais... Por favor... – implorou a menina.
– Infelizmente eu não posso fazer nada por você, criança. Mas esse é o objetivo das pessoas budistas, atingir um ponto de iluminação em suas almas que a libertem do eterno ciclo de reencarnações, atingindo finalmente a paz. Mas enquanto isso não acontece, criança, é o destino de todas as almas reencarnar e sofrer.