Celeste amava ver o céu pela noite. Era por isso que estava ali, observando a lua minguante brilhando acompanhada pelas estrelas. O campo esverdeado dançava conforme a ventania continuava, esvoaçando os fios platinados e o vestido longo que o ser celestial usava. Ainda encarando o céu, o arcanjo sentiu quando ao seu lado o demônio apareceu.
A presença dele era esmagadora; trazia um fervor de sentimentos divergentes, mas que, estranhamente, a acalmava.
Daemon, assim como Celeste, trajavam roupas comumente humanas. Ali, ao menos, eles pretendiam ser tão medíocres quanto uns. Ali, mesmo que por ventura, eles ousavam deixar florir o amor que sentiam um pelo outro. Longe de seus deveres, longe da causa que os dividiam à parte, distante da guerra celestial que castigava os céus e o inferno.
A platinada suspirou, sentindo a tristeza invadir seu peito. Sempre fora devota e o sentimento ambíguo de encargo e paixão fazia seu coração transbordar em pesar.
— Estás tão bela — ele a elogia e ela, sem poder evitar, sente o coração ser invadido pelo sentimento cálido.
— Não seja tão bajulador, Daemon — O arcanjo brinca. Ambos riem, apesar dele ser mais discreto. Daemon sempre fora assim: reservado, calculista e ambicioso, afinal, ele era a personificação da ganância.
Ele então toca em sua mão, numa carícia íntima e singela. Apertando-a, sentindo-a; o demônio poderia não demonstrar, mas sentia medo de que um dia fosse perdê-la por sua própria estupidez. Temia ser possuído por sua própria cobiça, o submetendo a ações que lhe custasse o que construíram sob uma linha tênue. Talvez fosse os sussurros dos demônios em seu pé de ouvido, quiçá fosse uma premonição.
Mas Daemon não estava disposto a perdê-la assim tão fácil; a amava intensamente, afinal.
Não sabia explicar quando a curiosidade deu lugar ao amor que sentiam. Não sabia quando os olhares, antes temerosos, ameaçadores, deram lugar à gentileza, à admiração, ao desejo. Daemon sabia, no entanto, dizer quando ele se rendeu ao sentimento tão estranho e humano que enchia seu coração. O fizera muito antes dela, poderia afirmar. No fim, só um humano poderia amá-la como ele o fazia.
Lembrava-se como, em sussurros melancólicos, ele revelou quem era: não um demônio, não um anjo caído, mas sim um homem, cujo a ganância contínua o levou à uma vida de servidão nos confins do inferno. E agora, ali estava ele: um homem, um demônio. Ambos e um só.
Celeste o puxou de encontro a um abraço, no qual ela pousou a cabeça no peito dele. A saudades se vai pouco a pouco, à medida em que ele a prende mais naquele enlace quase taciturno. O coração do demônio bate lentamente, quase parando, em contraste ao dela, que era tão vívido quanto a mesma. Ele lhe tocou os cabelos, afagando-os; e ali, sob a luz do luar, Daemon a conduziu para um beijo, com devoção. E ela, sem pestanejar, corresponde ao ósculo cálido.
Ele a segura pela nuca, trazendo mais controle ao beijo; e ela, em ousadia, o invade com a língua, trazendo um fervor apaixonante consigo. Celeste o deseja ainda mais quando o aperto em sua cintura se faz presente, quando ele com urgência a traz para mais perto, pressionando-a sob seu peito. Daemon puxa o lábio inferior entre os dentes, fazendo-a estremecer desejosa.
Fazia muito tempo, ele notou, muito tempo desde que a vira pela última vez, meses atrás. Novamente, o dever deles os impedem de seguir o romance coibido. Mas é ali, na luz do luar, que eles se rebelam para vivenciar a efervescência daquela paixão.
Mesmo que fosse pela última vez.
— Eu te amo — ele sussurra, com temor que os ventos fossem espalhar o seu segredo. — Agora e eternamente, eu a amo.
Ela o beija com firmeza, embaraçada o suficiente para não conseguir corresponder às palavras. Ele a deita na grama, suas mão tomando um caminho perigoso até o colo dela, que estava entregue aos toques. Ele se encaixa entre suas pernas, descendo os beijos molhados pelo pescoço da platinada, roçando sua ereção proeminente nas coxas delgadas; ela geme deleitosa, a respiração descompassada, os toques mais urgentes à medida em que ele se desloca.
Porém, em um ato abrupto, ele para. Afasta-se, temeroso, e Celeste estranha a situação.
— O que houve? — ela perguntou, segurando o vestido com força, ainda sentindo as sensações dos lábios dele contra sua pele.
— Eu sou ganancioso, Cellie. Quero tudo por inteiro — ele pontua, mas ela não entende. O coração bate forte e a hesitação ali não parece bem-vinda. — Não vou querê-la pela metade.
Ela pausa por um instante, entendendo o peso das palavras dele. Como um arcanjo, Celeste nunca tinha sentido o desejo da carne. Mas ali, com um demônio em seu ouvido — e pele, e boca… —, a tentação havia-se feito presente; e ela nunca quis tanto pecar como queria agora.
— Então me tenha por inteiro.
E ele a teve.