Marieta estava perdida em si mesma, vagando à deriva, com um sol escaldante fulminando suas costas. Pisava fundo no chão durante sua caminhada, embora sentisse que os sapatos afundassem mais a cada passo. Ouvia risadas, via os olhares e captava os pensamentos que eram direcionados a si. Alguns eram mais maldosos que outros, mas todos lhe fuzilavam da mesma maneira.
Os joelhos estavam prestes a não suportar mais o peso que seus ombros carregavam, Marieta sentia-se fraca e febril, entregando-se pouco a pouco a ideia de ceder. E então, com uma brisa de mudar caminhos, veio o pôr do sol, trazendo suas nuvens manchadas de um laranja-rosa suave e amigável, a preparando para a noite serena e estrelada que estaria por vir. Um sopro de ar fresco e revigorante que a fez esquecer de seus joelhos cansados e de seus ombros pesados.
As costas não ardiam mais e todo o suor derramado ao longo do caminho havia valido a pena. Como uma serenata de noite-menina, o pôr do sol sussurrava pelo sarapintado das nuvens as coisas que Marieta precisava ouvir.
Bendito seja o pôr do sol, que revelou a Marieta todas as verdades sobre ela mesma. A começar pelo fato de que ela não deveria ser refém da expectativa de outras pessoas sobre ela. Também lhe contou que ela ouvia muito mais do que diziam e que nem todos a olhavam ou julgavam, mas que ela deveria lutar consigo mesma e com sua mente para ver isso — e que essa seria a mais difícil das batalhas.
Quando Marieta percebeu, o pôr do sol havia ido embora, dando lugar à noite, levada, mas que a banhava com seu luar frio. Ela sorriu, sentindo saudade do momento que havia acabado de passar, mas sabendo que levaria para sempre no peito aquele pôr do sol. E que bendito seja ele.