Lugar de Conforto
maddie
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 16/08/22 02:48
Avaliação: 9.8
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 5
Comentários: 6
Total de Visualizações: 483
Usuários que Visualizaram: 11
Palavras: 370
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

sobre saudades de sentir algo que sentia com alguém.

Capítulo Único Lugar de Conforto

Faz muito tempo que não deixo minha cama. Não se preocupe, ando comendo, tomando banho, fazendo o básico, mas para o resto das coisas não deixo a cama — minto, às vezes fico no sofá, mas dá na mesma, não?

Faz muito tempo que você partiu. Demorei alguns dias para perceber que você não voltaria, não tão cedo. Nunca sei quando você vai partir, ou voltar. Você e essa sua alma de gato vagabundo, hein…

Faz muito tempo que não me sinto em casa, que não me sinto confortável, que não me sinto bem. Ao menos não tanto quanto eu poderia me sentir. Ao menos quando não estou em minha cama, deitada no colchão velho, me fundindo ao espaço cedido que já tem a marca do meu corpo. Mas está tudo bem — tão bem quanto seria possível —, acredite, é melhor assim. Aquela cama, mesmo que velha e com mais ácaros do que é saudável para meus problemas pulmonares, é meu lugar de conforto (de emergência).

Emergencial, postiço; porque você sabe que o meu lugar de conforto verdadeiro são seus braços. Minha casa personificada é você, seu peito é meu lar, só me sinto bem quando está comigo, só me sinto confortável quando o aperto dos seus braços ao redor de mim se faz presente. Não é saudável, assim como os ácaros do meu colchão, mas é o que me faz bem.

E eu sei que te faz bem partir, por isso jamais te impediria. Isso não faz doer menos. Dói demais quando te deixo ir, mas eu deixo, porque nunca poderia lhe perder. Te deixo ir, acima de tudo, por egoísmo, pois sempre quando volta você me abraça mais apertado.

Te deixo partir, mas enquanto não volta fico cada vez mais inconsolável. É difícil sentir-se sem lar, ainda mais quando se sentiu assim a vida inteira e experimentou essa sensação por um momento. Fico melancólica, numa melancolia bruta, azul-cristal-de-gelo e mórbida. Mórbida, moribunda e sôfrega, parecendo uma defunta azeda jogada em minha cama. Cama esta da qual eu não saio, exceto para o necessário, desde que você partiu. Porque quando você não está aqui — e faz tanto tempo que você não está aqui — a cama é meu único lugar de conforto.

❖❖❖
Apreciadores (5)
Comentários (6)
Comentário Favorito
Postado 10/10/22 23:03

Que texto profundo, melancólico e que faz com que o leitor sinta o gosto da solidão que apenas o amor consegue propocionar. Acho que muitos já estiveram na posição do narrador: permanecer em um lugar de conforto temporário, enquanto o verdadeiro lugar não volta...

Obrigada por compartilhar conosco.

Parabéns, Maddie ♥

Postado 20/10/22 20:55

Obrigada, anjo <3

Postado 11/10/22 19:39

Um jeito tão belo e delicado para escrever sobre algo tão triste e dramático...

Me fez lembrar de amores da adolescência!

Lindo texto, parabéns <3

Postado 20/10/22 20:53

Muito obrigada pelas palavras, bem! Fico feliz que tenha gostado <3

Postado 20/10/22 18:12

doloroso, a certo modo, a quantidade de adjetivos e a ligação que tenho por já ter me denominado com cada um deles. A dependência é um veneno.

Postado 20/10/22 20:53

Um veneno maldoso que muitas vezes não se mostra na hora. Obrigada pelo comentário.

Postado 20/10/22 18:12

doloroso, a certo modo, a quantidade de adjetivos e a ligação que tenho por já ter me denominado com cada um deles. A dependência é um veneno.

Postado 20/10/22 20:53

Um veneno maldoso que muitas vezes não se mostra na hora. Obrigada pelo comentário.

Postado 20/10/22 23:06 Editado 20/10/22 23:07

O tipo de leitura que vai doendo aos pouquinhos. Uma obra delicada, melancólica e muito bem feita.

Parabéns!

Postado 21/10/22 21:58

Muito obrigada <3

Postado 25/03/23 15:32

U-A-U!

A sua narrativa é bem escrita e consegue transmitir as emoções da personagem de forma MUITO realista. Gostei especialmente da maneira como você vai descrevendo as sensações físicas e mentais da protagonista, o que torna a história mais envolvente!

Já me senti assim tantas, tantas vezes... Mas digo que nenhum estado é eterno, pode parecer clichê, mas como a Aurora disse em uma música uma vez: "Acima da chuva, acima das nuvens é sempre mais claro!"

Linda obra Maddie, parabéns!

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