Ainda que não acreditem na minha história de pescador, minha Sieun é sereia. Sieun é sereia marota, do tipo que se banha à luz do luar. Ali, à beira do mar, me dá conchas e troca comigo juras de amor, as quais em sua voz soam como música junto das ondas que batem calminhas ao longo de toda a costa. Durante a lua cheia, me conta histórias do fundo do mar e penteia meus cabelos com as mãos leves demais, fio por fio, como se quisesse me contar outra coisa. Me trança os cabelos, cantarolando as mais belas melodias de amor marítimo; amor marítimo lá do mar aberto.
Sieun diz que sua melodia é perigosa e que numa noite de lua minguante eu posso acabar me machucando, mas se esse é o preço a se pagar para ouvir sua bela voz e passar os dedos por seus cabelos salgados, vale a pena. Qualquer coisa no mundo é pouca para estar com ela.
Queria eu poder provar teu beijo com gosto de água do mar, mas assim que a lua se põe, ela foge como uma onda, deixando-me sozinha na areia da praia. E lá se vai, com a chegada da luz do sol, meu porto seguro, transformando a orla toda em areia movediça e me fazendo cair e cair e cair, e transformando meu ensolarado dia num breu assustador. Queria morar na noite, na nossa noite, com a lua nova sorrindo para nós e nos iluminando com sua calmaria branco-azulada, refletindo tranquilamente na superfície do mar.
Quando lhe pergunto porque me tortura assim, do alto de seus cabelos louros, sorri e diz que faz isso, pois não quer acabar me afogando. Sieun, afogo-me em ti todos os dias e não há tragédia maior do que se afogar em poça, água rasa e sem profundidade. Me deixe mergulhar em ti então, pois é muito mais seguro te ter dentro da água, seu habitat natural, tua casa. Peixes fora da água morrem, Sieun, e meu oceano é você.
Nosso amor, que é de areia da praia e água rasa, poderia ser amor de oceano profundo e alto-mar, que viaja com as ondas e se estende até onde a vista não pode ver. Tão grande quanto o Pacífico e tão profundo quanto o Índico, faça de mim seu Atlântico e pare de ser fria como o Ártico. Não me deixe morrer na praia, Sieun. Me leve para longe das bordas com as correntezas e me deixe ver seu sorriso sob os raios de sol, mesmo que debaixo da água.
Eu sei, Sieun, que tu levas no peito todo o oceano, mas eu levo a ti em meu tempo. Não me deixe à sua espera na costa, leva-me contigo para o oceano e mostre-me os corais dos quais sempre fala. Deixe que ali, nos recifes mais coloridos do oceano, more nosso amor, deixando ser em atol ou ilha aquilo que hoje é só um grãozinho de areia. Leva-me contigo, Sieun, que te mostro o oceano que podemos ser.