A realidade assusta mais que a mentira. Meus demônios não são aqueles que me perturbam no mundo dos sonhos, lá eles não podem me machucar — que Morfeu me abençoe mais uma vez esta noite.
Tudo dói quando abro os olhos, da cabeça ao estômago; este que se revira quando penso demais, e eu sempre penso demais. A cabeça, cansada, feito meus ombros, dói e implora por descanso. Durmo de novo, tentando ficar longe daquilo que me machuca.
O portal se forma, passo por ele sem medo. No mundo de Morfeu vejo uma miragem ao longe, nítida e confusa feito um reflexo n'água. Me vejo, vejo você, nós sorrimos. Algo passa pela água, a miragem se desmancha; já era meu oásis.
Lágrimas ilusórias brotam dos meus olhos, eu as limpo com meus dedos fantasmagóricos.
— Não há porque chorar. — Sua voz sibila. — Tudo não passa de um sonho.
— É por isso que choro. — A voz de minha consciência responde, me acordando de mansinho.
Dos deuses, Morfeu era o único que não me amaldiçoara. Da vida, o sono era de onde eu tirava proveito. De você, não tenho nada além de lembranças irreais e sonhos.
Todas as coisas boas que vivi foram ilusões.