Jay tinha um quarto desarrumado repleto de materiais jogados — e telas quebradas. Tinha as mãos (e eventualmente outra parte qualquer) sujas de tinta. Tinha o olhar sagaz e ferino, que encontra detalhes mínimos e grandes em tudo.
Jay tinha calos de tanto segurar os pincéis, afinal posar também doía, fingir também demandava esforço, o faz-de-conta implicava em viver boa parte das implicações do fazer-de-verdade. Fingir somente não lhe entregava os frutos que fazer algo de verdade trazia. Fazer cena com pincéis e paletas não fazia quadros, pintar sim.
Quando deixava de pose e roçava o pincel nas telas, no entanto, lembrava porque só fazia pose. Os traços, por mais singelos que fossem, pareceriam aos olhos dos outros delicados e belos; aos seus olhos nada mais eram que rabiscos-rabiscados-garranchescos, poluição visual, arte nem sequer medíocre. Jay não acreditava em elogios: eles, na maior parte das vezes, eram falsos. As críticas, essas sim, eram sinceras. E estas ele escutava.
Você não é um pintor, Jay. É apenas um farsante com os dedos manchados de tinta. As palavras cortavam profundamente. A verdade dói.
Sorriu fraco, uma lágrima escorrendo pela bochecha manchada de azul e branco não mesclados. Eu sei, respondeu para si mesmo.