Passo meus dias afogada em café
As dores pelo corpo
Catalizam as dores de cabeça
A culpa de existir volta a aparecer
Nunca estive tão religiosa
E talvez tão desesperada
Mas sempre cedi aos extremos
Pois é a única forma de sentir
É bom estar viva
Chorando toda noite
Passando muitas horas comigo mesma
Em meu banheiro
Olhando nos olhos da minha fera
Ela ainda vai me devorar.
Passo os dias ouvindo vozes
De grandes mulheres loucas e livres
Procuro me ver nos traços
Que são louvados, nelas
Estou com uma tosse que não passa
Já tem meses que meus pulmões
Pedem misericórdia
Há uma forma de ser saudável
E mesmo assim trabalhar igual uma desgraçada?
É bom estar viva
Sentindo o poder do amor em meus dedos
Mas eu ainda preciso me agarrar pelos ombros
Bater em meu rosto
E me acalmar
Pois basta uma palavra mal interpretada
Para me fazer desmoronar
Andei socando umas paredes
E umas palavras pela casa
Andei prevendo o futuro
E te digo, não estou animada.
É assim que minha mãe se sentia?
Ou ela é mesmo um ser de luz elevado
Com poderes internos
Que não são genéticos
Como eu, um ser tão caótico
Posso ter saído de um anjo
Como ela?
É assim que minhas avós se sentiam
Quando tinham uma dúzia de filhos
Para carregar e educar
E maridos insuportáveis
Com o demônio na carne?
É assim que é ser
A geração mais livre de nós todas?
Finalmente compreendo elas
E não consigo ser forte como elas
É bom estar viva
Ligo chorando para a mamãe
E afogo as mágoas com o papai
Cada fim de semana, me enfio
Em uma casa familiar diferente
Pois preciso me sentir amada e segura
Preciso ter certeza
De que não estou deixando nada para trás.
É bom estar viva
Com muitas propostas de emprego
Para agarrar
Seria muita arrogância dizer
Que nenhum deles me merece, realmente?
Quando isso vai mudar,
Quando isso vai passar?