A planta crescia num vaso marrom. Na entrada do apartamento. Foi presente de um ex-namorado. Um grande cafajeste, como todos os demais. Sinceramente, não sabia o motivo. Talvez, implicância do destino. Mas tinha um dedo podre para os homens. Só escolhia porcaria.
Por não gostar do infeliz, também passou a detestar o vegetal. Muito provavelmente, devido à semelhança que só depois notou. Claro que não eram físicas. Ele não tinha cara de chuchu. Se bem que, se a Natureza fosse justa, teria nascido assim. Mas houve uma tramóia. Uma conspiração que transcendeu as espécies, apenas para cativar o seu coração.
Aquela planta picareta chegou toda vistosa. Esbanjando formosura. Dava a entender que era um tipo raro. Cheia de pequenas flores brancas. Muito, muito cheirosas. Igualzinha ao conquistador barato. Que parecia um verdadeiro frasco de perfume ambulante. Vestindo um terno grafite. Com toda a pinta de advogado bem-sucedido e sedutor. Mas desgraçadamente as coisas mudaram.
As tais florzinhas secaram. E nunca mais apareceram. A planta se tornou raquítica. Com uma folha aqui e acolá. Medonhamente horrorosa. Igual ao príncipe encantado. Desmascarado como um traste, que era sustentado pela mãe. Sem ter o primeiro grau completo. Ostentando um terno alugado para se fazer de importante.
Muitas vezes, pensou em atirar aquela planta pela janela. E se livrar de vez de tudo que lembrasse o estrupício. Mas como parecia ter sido cagada de urubu. Sua interminável maré de azar entraria em ação. O duro vaso de argila atingiria a cabeça de alguém. Ela seria presa por assassinato. Passaria o resto da vida numa cela imunda. Encarando seus dias infelizes com cachaça de cadeia. Produzida com total higiene de água de vaso sanitário.
Um dia, porém, se deparou com uma cena inusitada. Uma lagarta gorda e esfomeada devorava uma folha.. Era um bicho realmente feio. Cabeludo e pegajoso. Teve o impulso de matar aquela coisa. Dar umas boas chineladas. Mas pensando melhor, detestava tanto a planta, que deixou a asquerosa lagarta de lado. E ainda lhe desejou bastante sucesso. “Bom apetite, minha filha!”.
Em poucos dias, a planta ficou pelada. Todas as folhas sumiram. E também a redonda lagarta. Na verdade, apareceu um charutinho preso em um dos galhos. Que depois, a curiosa mulher descobriu ser um casulo. Então, soube que ali dentro estava acontecendo uma transformação. Aquele horrível inseto tinha entrado em metamorfose. E tal foi a enorme surpresa, numa manhã ensolarada.
Encontrou uma lindíssima borboleta azul. De asas abertas, colorindo a parede. Elas se agitaram logo que a porta foi aberta. Como se esperasse apenas para ser vista. Aquela cena permaneceu na mente da mulher. Que aos poucos, compreendeu o misterioso recado.
Até aquele momento, tinha vivido uma vida de lagarta. De uma mulher insegura, derrotada pela sua baixa autoestima. Precisava erguer a cabeça e conquistar os seus sonhos. Entrar em sua própria metamorfose. E virar borboleta.