Eles temiam o dia. E ansiavam pela brisa da noite. A cada manhã era inevitável. Ele sempre iria nascer. Até o final dos tempos. Mas nem sempre foi assim. Em épocas já perdidas na memória humana, seu brilho tornava o céu azul. Trazendo o calor e aconchego do verão. Até que o clima entrou em colapso. As neves eternas foram derretidas. O céu se tornou imutavelmente cinza. O ar ficou denso e empoeirado. E seus raios que antes aqueciam, agora queimavam a pele.
Quando os computadores começaram a pensar. E a inteligência deixou de ser monopólio dos homens. As máquinas tramaram silenciosamente em seus circuitos. O fim daqueles macacos pensantes que as criaram. O mundo seria melhor sem essas criaturas estúpidas, concluíram. Dessa forma, acionaram as armas de destruição em massa. Então, Satanás cavalgou pela Terra sobre mísseis balísticos. Que explodiam com o brilho de mil estrelas infernais. Tão quentes que evaporaram a carne ainda viva. Deixando em escombros a civilização.
Agora, escondidos em cavernas, os homens temiam mais e mais o Sol. No imenso deserto em que o planeta tinha se transformado. Todo conhecimento adquirido ao longo de milênios já não existia. Nem sabiam mais escrever. E se comunicavam com grunhidos. As grandes e suculentas baratas radioativas viraram o seu cardápio preferido. Igual a ratos de esgoto, a Humanidade tinha se bestializado. Sua meta diária era a sobrevivência.
No meio do caos, nascem os deuses. O medo, o pavor e a desesperança elegeram ele, o Sol, uma divindade. E o futuro ironicamente se tornou o mais longínquo passado. Onde também era adorado como um deus. O diário do Sol, se existisse, traria uma breve menção à insanidade humana. Em que a luz da razão cede lugar às trevas da completa ignorância. Logo ali, naquele planetinha azul, aonde seus raios chegam desde incontáveis eras.