Era uma bela manhã ensolarada. Com um bonito céu azul. E a mosca voava pelos ares, displicente. Mas, numa fração de segundo, caiu na rede da aranha. Desesperada, a mosca tentou se livrar dos fios pegajosos. Mas foi inútil. Em um instante, foi enrolada, como uma pequena múmia. E as presas vorazes e pontiagudas da aranha perfuraram o seu abdômen. Injetaram um doloroso líquido. Que dissolveu as suas vísceras. Len-ta-men-te. Depois, se fartou da sua vítima. Daquela carne ainda fresca. Então, fez uma solene prece.
Contudo, uma vespa também fez a sua oração diária. E ao encontrar aquela aranha, com a barriga volumosa, agradeceu aos Céus. Era finalmente a ação da Providência Divina. Uma gorda aranha ali, no meio do caminho. E implacavelmente investiu sobre sua presa. Espetando o seu ferrão no pequeno coração aracnídeo. Mas não a matou. Injetou uma toxina paralisante. Dessa forma, a aranha dormiu com os anjinhos da vespa. Os seus pequenos filhotes, colocados em seu interior. E foram eles crescendo vorazes. Devorando incessantemente a sua carne. De dentro para fora.
A aranha assim foi sendo consumida. Até restar uma carcaça oca. Evidência de seu breve e inevitável destino. Afinal, todo predador um dia vira presa. E as pequenas vespas, cheias de vida, após sacramentarem aquela morte, saíram para conhecer o mundo. Eis o sublime espetáculo da vida. Justamente, naquela manhã. Tão lindamente ensolarada.
As vespinhas então se dispersaram. Agora iriam lutar pela sua sobrevivência. E instintivamente, já traziam uma preciosa lição. Estavam em um campo de batalha. Mas, uma delas, muito curiosa, se deslumbrou com uma formação de fios geometricamente perfeita, que viu de relance. Quem sabe, valesse a pena tirar apenas um tempo. Um breve instante, para contemplar algo tão bonito. Brilhando sob a luz do Sol. Ela fez meia volta. Irresistivelmente, pousou. E não saiu mais. Tinha caído na teia de uma aranha.