Qual o seu pedido?
Há muitos anos ganhei um Daruma.
Fiquei empolgada e cheia de fé, afinal ele prometia realizar desejos, mas tenho certeza que o meu desejo foi um pouco mais complexo do que o meu pequeno bonequinho de gesso esperava, basta observar o quanto demorou para que conseguisse realizá-lo. Até tombos o coitado levou no decorrer do caminho.
Mas sabe, não foi uma questão de sorte ou azar. Ah, como eu sei disso?
Apenas porque sei que o Tempo é um sujeito matreiro, capaz de pregar algumas peças. Parece que as coisas acontecem no momento que devem acontecer, nem antes, nem depois e não adianta muito ter pressa.
Sei que quando pintei o primeiro olhinho do meu querido bonequinho não existia um fio de cabelo branco em minha vasta cabeleira, e hoje… bem, hoje os brancos são mais abundantes do que as noites de luar.
Mas acho que eu não tinha noção da força do meu desejo… da força do meu pedido, porque agora que ele acontece eu não consigo imaginar a vida daqui para a frente.
Será um recomeço, um início ou até mesmo o fim. Não sei ao certo, mas eu já sei que todo o amor que pedi para viver, toda a plenitude de felicidade que eu desejei está acontecendo.
Sim, meu pedido foi ser plenamente feliz.
Não aquela felicidade de comercial de margarina, sem contratempos, sem percalços, mas aquela felicidade de altos e baixos, das pequenas coisas, dos pequenos gestos. Aquela felicidade genuína que explode dentro do peito, capaz de romper barreiras e permitir que transborde todo o amor que represei aqui dentro.
Falei que era complexo, não era um pedido simples, mas pra mim está sendo assustador viver essa realidade, me assusta saber o que está acontecendo.
Hoje eu desenho o outro olho do meu querido Daruma, enquanto meu ventre te gera filho; a pequena razão da minha felicidade plena está finalmente a caminho.