A campainha tocava incansável, fazendo acordar no pulo e atender a porta, um homem de cabelos bagunçados e olhos semi-serrados.
—Olá, esse bebê é seu filho. Fique com ele hoje e eu nunca mais te perturbo — a mulher entregou a criança aos braços do pai e sumiu como um fantasma.
Seria aquilo uma piada? Um trote de final de ano? Alguma brincadeira sem graça?
O homem ficou ali parado por algum tempo, sem acreditar. Olhou o menino, olhou o corredor vazio, fechou a porta e volta a cama. Quando estava pegando no sono, pensou rindo: “Meu filho!? Quer me matar de rir?”
— ... — engoliu seco. — Poderia ser mesmo meu filho? — levantou suando frio.
O bebê dormia no sofá da sala, tranquilo.
— Mas é muito feio, o menino — sussurrou baixo o dito pai do feinho.
***
Já na cozinha com os pensamentos ligados no 220V, esquentava o leite para o bebezinho: — Se eu fosse feio daquele jeito, nem duvidas teria a princípio — aquele meio sorriso foi sumindo de seu rosto ao ver o menino brincando quietinho. — Mas ela disse que eu sou o pai do monstrinho...
O dia passava corrido, balançando o bebê, ele resmungava franzido a testa: — Poderia ter se enganado?! Poderia...? — caminhou até o espelho. — É... Não somos parecidos! Claro que não é meu filho!!
Dançou, rindo com o pequeno menino. A criança achando tudo muito divertido, gargalhou de tudo aquilo.
— ... Você fica muito fofinho rindo assim-m — apertou a bochecha rosinha da criança.
***
Enquanto o bebê dormia ao seu lado, ligou a quem poderia lhe ajudar um pouco: —Alô, Mamãe? Eu era feio quando bebê?
— Oxi, meu Filho, toda mãe acha seu bebê bonito...
Aquilo não ajudou em nada, quem poderia dar uma resposta verídica? A mãe da criança tinha sumido como iria encontrá-la? Poderia nunca voltar. Se o menino era mesmo seu filho somente um teste poderia provar...
A campainha tocou, não era deliver.
— Olá, de novo, aonde está meu bebezinho? — era mulher daquela manhã.
— Ele está dormindo.
A estranha adentrou a casa e agarrou o menino, enchendo de beijos e carinhos.
— É mesmo meu filho? — lhe escapuliu.
Ela olhou séria e começou a rir: — Claro que não, vocês não são... nem um pouco parecidos. Tudo que eu precisava era de alguém para ficar com ele hoje, obrigada.
— Você deixou seu filho com um desconhecido?
— Desconhecido não, nós conhecemos das aulas de yoga e já dormimos juntos uma vez.
Dito isso, ela pegou a criança e foi embora, sem explicar mais nada ao “falso pai do dia”. Aquele dia estranho e angustiante deixou uma certa tristeza — “não teria sido tão ruim se o menino fosse meu filho” — pensou distraído.
Toda aquela história tinha mexido consigo, saiu para beber com os amigos.
Entre muito papo furado, alguém disse: — Vocês se lembram da Clarisse?
Todos assentiram, mesmo que não lembrassem quem era a mulher.
— Disse e insistiu que o menino era meu filho...
Até aqui essa história de filho teve que o seguir? — suspirou cansado.
— Se enganou, o menino não é meu — riu.
O homem enloqueceu, poderia aquela mulher também ter se enganado? Ela disse que não era seu filho, mas seria ruim se fosse...