Com um toque suave de seus dedos quentes, em minha pele tão pálida quanto a Lua prateada que enfeita o céu noturno. O toque puro, tão suave quanto a mais leve pluma, contornando cada traço do meu rosto frio e duro, fazendo-me esquecer por um momento o que eu realmente sou. Toques, que com os seus dedos quentes me faziam me encantar, contudo, sei que não poderia, não poderia ter me permitido nutrir esse estranho fascínio, condenando-te a esse fardo. Entretanto, esse foi o sentimento mais puro e intenso que ousei experimentar em todos esses séculos da minha sombria existência. Você me faz sentir vivo, tola humana.
Os meus punhos são repletos de correntes frias, marcados pelos incontáveis sangues inocentes que derramei para saciar-me; eu sempre estive preso, preso ao delírio da minha própria mente macabra, a qual me condena diariamente pelo monstro, o demônio, o qual tornei. No entanto, quando olho os seus olhos sonhadores, eu posso ver a clara liberdade, a liberdade tão almejada por mim.
Quando olho para você — Oh, minha doce e frágil criatura — vejo-me em um mundo diferente, em outra realidade. Apego-me em sua doce imagem, temendo o dia em que irei te perder, mas jamais te condenaria a uma eternidade amaldiçoada ao meu lado. Todos os dias contenho-me para não sucumbir ao meu desejo e cravar as minhas presas em seu suculento pescoço, e saciar a terrível sede que o doce aroma do seu irresistível sangue me trás; é tão tentador… Você não imagina como a minha garganta queima, como se estivesse engolindo brasas, quando a vejo jogar os seus volumosos cabelos para o lado, revelando a sua pele sensível e leitosa; posso ver as veias de seu pescoço pulsando e o calor do seu sangue chegar até mim; minha boca enche de água, misturando ao gosto ácido do veneno, implorando para por o fim em minha agonia. No entanto, ao invés disso, tento concentrar-me no som melodioso da sua risada, ao qual me lembra as mais belas sinfonias de Beethoven. Escondendo as minhas presas, para não assustá-la com a minha verdadeira forma demoníaca, a forma sugadora de sangue impiedosa.
Você é como a pequena chama de esperança. Você é a minha esperança, aquela que me apego com todas as minhas forças para me manter firme, para não perder a minha sanidade, ou tão pouco ser consumido pela escuridão que assola o meu frio coração. Me tornei deveras dependente de você, como preciso do Sol para acreditar que é dia ou da Lua para acreditar que é noite. Estou viciado na paz que o seu leve sorriso me traz, o sorriso mais puro e inocente que encontrei em toda a minha existência, em uma pequena mortal. Preciso de seus toques para continuar aquecido, para continuar acreditando que ainda existe um coração dentro do meu peito, dentro de um assassino o qual sou.
Maldita, maldita, maldita… Por que me proporcionou essa ilusão? Por que me tornou tão dependente, frágil mortal? Enfeitiçou-me? Mil vezes maldita!
Irei sofrer quando você partir. Você não é como eu, você ainda possui uma alma bondosa… Sei disso, porque quando olho em seus doces olhos sonhadores, eu vejo a clara liberdade.