É difícil escrever algo que possa sumarizar com precisão o que é Organismo, uma coletânea de poemas feita a partir não de uma leitura precisa ou de um estudo preliminar a respeito de certo tema, mas de algo pior. Acho que cheguei ao que cheguei por meio de um momento, sem qualquer especificidade. É estranho que esse momento tenha durado tanto ao ponto de eu ter conseguido produzir algo em cima dele, e talvez isso seja o que mais me deixa amargo a respeito da existência de Organismo: o momento durou mais do que deveria. E ainda dura.
Foi como quando alguém marca o couro de um boi com ferro incandescente. Ou finca uma estaca no tronco de uma árvore. É um ser ferido. O momento — o perfurar, o queimar — dura o que durar, às vezes pouco, às vezes muito, mas a dor está sempre ali, em todo o momento. O organismo se lembra daquela dor tatuada na pele, na casca, por mais que o momento tenha ficado para trás. Organismo é uma dor que dói além do momento, para um sempre mal cicatrizado.
Não há rimas, não há métrica; esse texto não foi pensado para isso. Foi escrito em um instante e ele ainda está aqui. Espero que Organismo consiga lembrar bem dele para que eu consiga esquecer.