- Como eu cheguei aqui? – perguntei.
- Já respondemos a essa pergunta. Não se lembra? – disse a figura diante de mim. "Não, eu não me lembro," pensei. – Todos passam por aqui cedo ou tarde. Tudo passa por aqui.
A figura abaixou o rosto inexpressivo e atentou-se a algo. Acompanhei o olhar e vi um bloco de notas sobre a mesa. Pude jurar não estar ali no segundo anterior. Também não me lembrava de ter uma mesa e, no entanto, lá estava, com o bloco.
Havia algo escrito no papel branco. Meu nome.
- Você está no Acervo. Seja bem-vindo, Giom. – disse a figura ao erguer o rosto e fitar-me.
- Cacete...
A figura sorriu.
Meus pensamentos se desordenaram. Era a visão do "lugar", ele possuía algo de imaterial. Informação indo e vindo, se materializando do nada e, então, desaparecendo. Uma sala enorme em um momento e, em outro, minúscula. O "lugar" pulsava, junto ao meu corpo inteiro.
"Corpo".
Eu queria sair dali.
- Não se apresse, Giom. – disse a figura, como se lesse minha mente. – Respirar fundo funciona para espécimes como você, é o que obervamos.
- O quê?
A figura virou uma folha no bloco de notas - agora um grosso volume - e anotou algo.
- Se não for incômodo, gostaria que continuasse sua história. Garanto que ajudará a organizar seus pensamentos.
- História? – eu disse, ainda mais confuso. – O que quer dizer? Eu estava... eu...
- ... Sim?
Então, os fragmentos voltaram e começaram a se encaixar. Eu contava uma história. Minha história.
Os fragmentos estavam fora de ordem.
- Eles me condenaram à morte. – comecei. Mas esse era o final.
- Por qual crime, Giom? – a figura perguntou.
- Crime. Eu nunca...
Com essa frase, os fragmentos de minhas memórias se ordenaram.
- Oh, não... – eu disse. E chorei.