Durante muito tempo você foi meu melhor amigo. Eu não consigo me ver contando isso para mais ninguém além de você, porque nossa relação era desse tipo, nós contávamos para o outro esse tipo de coisa. Ainda assim, me sinto estranha, já que o assunto é um tabu que você tentava ao máximo se manter longe. Mas, é. Desculpe por isso.
Esses dias, vagando pelo Youtube, encontrei um vídeo sobre relacionamentos abusivos. Você não sabe o quanto me dói dizer que quase tudo naqueles seis minutos fez eu me identificar de uma forma assombrosa. Eu sei que você deve estar chocado agora, porque provavelmente essa não era sua intenção. Ou talvez seja só eu com minha necessidade de acreditar que você não entendia de verdade o que estava fazendo.
Outra verdade dolorida: Eu nunca quis fazer sexo. É, eu sei que você sempre perguntava sobre isso, mas a verdade é que eu não queria te decepcionar. Eu tinha medo que você fugisse de mim se eu negasse, e veja só onde chegamos com esse meu pensamento, não é mesmo? Por você, eu me arrependi todas e cada uma das vezes. Eu poderia me desculpar novamente por não saber impor minhas vontades, mas nós dois sabemos que você via quando eu não estava confortável. Porém, era mais fácil para você ignorar, já que eu sempre cedi tão facilmente.
Eu odiava quando você me diminuía. Menina burra parecia estampado nos seus lábios todas as vezes que eu não compreendia um termo político que você usava, ou quando minha memória falhava e eu simplesmente não tinha forças para me defender. Porque afinal, você era minha pessoa amada e aquilo era uma brincadeira, não era? Não era?
Eu devia ter percebido antes que você era errado demais, tão quebrado que nem eu conseguiria consertar. Eu devia ter percebido que você não queria conserto. Mas ignorei, porque meu fascínio por você era maior que tudo que eu já tinha sentido.
Você julgava meu gosto musical, assim como todas as pessoas que me amedrontam fazem. Justamente você, que devia me confortar e dizer que tudo estava bem. Eu me pergunto quão cega eu estava.
Querido ex-namorado, você é tão venenoso que eu não consigo deixar de pensar em um futuro perfeito paralelo para nós até hoje, mesmo depois de admitir para mim mesma que os meus piores demônios eram verdade. Mesmo depois de excluir nossa playlist, superar suas mensagens de saudade e sentir alívio ao pensar que não preciso mais te ver. Porque – e aqui eu deixo a nossa última referência – você será para sempre a minha nicotina mais viciosa. Só temos um problema: Eu não fumo.