Lorde Dragão
jcarreir
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 04/01/22 14:02
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 6min a 8min
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Palavras: 1016
Não recomendado para menores de dez anos
Capítulo Único Lorde Dragão

“ — Porque sim! – respondeu ele, vangloriando-se por sua inaptidão em desenvolver uma resposta coerente e aceitável”.

Diálogos corriqueiros, recheados de frívolas respostas, eram desenvolvidos displicentemente e pouco podia se aproveitar, para considerar o entendimento sobre a personalidade de algum dos dois. Inicialmente os assuntos fluíram aparentemente de maneira natural, as afinidades não demoraram a se apresentarem, enaltecendo prováveis gostos em comum. Ele estava se mostrando como alguém gentil, extrovertido e agradável, ao passo que ela sentiu empatia a partir do hobbie que compartilhavam. Palavras, frases, assuntos e preferências à parte, chegaram ao primeiro impasse. E então, a incompatibilidade havia ficado clara, ou talvez não tanto, como deveria.

De maneira lúdica, ele era como um dragão. Experiente, sagaz, perigoso e letal. Após “séculos” adquirindo conhecimento, passando pelas mais diversas provações, hora vencendo, hora perdendo, sobretudo evoluindo e coletando informações, tornando-se forte, a cada dia mais indomável.

E ela? A que se assemelhava? Se por sua visão limitada, resolvesse comparar-se também a esse místico ser, diria que a pouco quebrara a casca de seu ovo e não se passara tempo demais para que estivesse caminhando entre grupos de seres bem maiores que si. No entanto, sua inabilidade em voar como o dragão de séculos mais, de maneira alguma a tornava inútil ou menos do que o tal “lorde dos dragões”. Contrariando o pensamento equivocado dele, em julgar que havia demérito por ela ainda não possuir as “asas do conhecimento” ou ter lutado lutas como as suas, para então, entender exatamente onde ele queria chegar com cada palavra dita, ela sabia. Não de muito, não de tudo. Mas, tinha sua própria história, seu próprio conhecimento.

Havia particularidades de uma adolescente no período da muda, que nem mesmo ele que passou por aquilo sabia. Será que nao enxergava a obviedade que estava diante de si? O que faz um adolescente, se não querer provar-se capaz de seja o que for? Não era possível que ela soubesse de absolutamente nada e ele de tudo. Sabiam os dois de coisas diferentes, ainda que a respeito do mesmo assunto. Ela queria mostrar-lhe a beleza de seus descobrimentos, suas certezas e perguntar-lhe pelas dele, e assim o fez. Não obstante, o vaidoso lorde não a quis considerar, menosprezando os pontos citados com alegria e anseio.

“— Ignorante!”

“— Desagradável!”

“— Só estou expressando minha opinião!”

Onde estava o erro? No lorde dragão que não se colocou no lugar dela e procurou entender, que a adolescente, como já o havia dito, não gosta de “rispidez gratuita”? Ou estaria nela o erro, já que supostamente não entendeu que os comentários "ácidos” dele, derivam de seu humor e de fato era alguém rabugento, como também avisara de antemão?

Para ele, ela estava sendo vitimista. Sensível, inábil e causava-lhe preguiça de ensinar o caminho, para que ela pudesse bater suas próprias asas. Rude! Arrogante! Ela o culpou. “Porque julga a si mesmo como profundo conhecedor e não se dá ao trabalho, de explicar-lhe uma falha em seu entendimento?”

Olhando de fora, alguém diz:

“ Vocês são doidos!”

"Incompatíveis!”

“Como chegaram a esse nível?”

Poderia se afirmar que são os dois idiotas à sua maneira? Provavelmente que sim. Ambos, não só ela. Como provavelmente ele diria.

Faltou ao Lorde a consciência de que embora frágil, se comparada a ele, ela era forte. Não se fazia de vítima, embora pudesse parecer. Ela tinha opinião própria, apostava em seus valores e sabia ser capaz de entender e aceitar as divergências em seus pontos de vista. Jamais o desmereceu por suas preferências, não o julgava ‘menos’ por seus gostos. Ela sabia, ainda que ele tivesse “preguiça de explicar”, que haviam motivos válidos para gostar ou não de algo ou alguém. No fundo ela somente queria ser amiga dele. Assim como lhe disse:

“Estabelecer um vínculo de amizade” compartilhar momentos descontraídos, proveitosos, trocar experiências. Ela se sentiu mal, por pensar que ele deliberadamente estava fazendo pouco caso dela. Será? Bem, foi o que lhe pareceu em boa parte do tempo.

Mas e quanto a ele? O que pensava a respeito de tudo isso? Que ela era tola? Que seus gostos eram ruins? Que a conversa deles o tempo todo, foi chata? Que ela fazia intermináveis monólogos? Que não aceitava o posicionamento dele? Ele afirmou que ela nunca leva em conta sua opinião. Porque pensou assim? Havia mesmo algo que validasse aquela afirmação? Será que na visão do Lorde, ela era louca? Ele acreditava de fato, que ela estava se vitimizando? Sobre quais fundamentos ele se firmou, para declarar que ela não sabia a diferença entre um comportamento comum em todos, sobretudo em momentos de raiva? Ignorância.

Aquela adolescente dragão, que ainda não desabrochou, estava farta! Saturada de sentir-se mal diante da implacabilidade com a qual ele lidava com ela. E condenando-o, não esperou que refutasse, os motivos para si estavam claros. Intimou-o, despejando tudo que estava sufocando-a ao longo daquele descaso com o qual, para ela, ele a estava tratando.

E o que fez o lorde diante daquela enxurrada de insatisfação?

Ele bateu suas imponentes “asas do conhecimento”. Voou irredutível e de ego arranhado, virou-lhe a face, levando-a a acreditar que ele era um tipo presunçoso e arrogante.

Mas será que ela estava certa de que as intenções dele eram horríveis? Sim. Estava e sua opinião nao mudaria.

Será que ele acreditava que ela era estúpida em não saber entendê-lo? Sim. Ele acreditava.

Será que um deles foi idiota?

Será que ambos foram idiotas?

Alguem certamente foi.

Eram assim tão diferentes, mesmo com similaridades incontestáveis? Indiscutivelmente.

O Lorde dragão era um cretino e não merecia o benefício da dúvida? Parece que não, afinal…

A adolescente encheu o saco dele, irritando-o com seu pouco conhecimento? Assim ele fazia parecer.

O lorde estava se divertindo às custas dela? Havia dúvidas?

Ela estava ligando para isso? Talvez estivesse, por algum tempo.

Enfim, enfim... São muitos e se 's… Será' s? e Porquês. Respostas dúbias, achismos... Não dá para saber a verdade só do ponto de vista de um, todavia, ruídos na comunicação é mais comum do que se imagina e...

Idiotas?

Tem aos montes por aí.

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Apreciadores (1)
Comentários (1)
Postado 11/01/22 21:16

Que leitura mais hipnotizante! Seu jeito de escrever é bem único, fui muito surpreendida com sua obra! Parabéns, muito boa! Seja muuuito bem-vinda à AC! Estou doida para ver mais obras suas por aqui!

Postado 21/01/22 00:42

Muito obrigada!! Fico feliz e satisfeita que tenha gostado do conto^^ Estou sempre me esforçando para melhorar ♡´・ᴗ・`♡~(^з^)-♡

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