Por que eu ficaria nesse playground? Os brinquedos velhos e desbotados já não servem mais para mim, estou muito grande para me divertir na gangorra cor-de-rosa ou para escorregar no tobogã amarelo. Há musgo na caixa de areia e as correntes do meu balanço favorito enferrujaram. E quem vem brincar aqui é má companhia: estraga os meus brinquedos, espanta os passarinhos, mata as borboletas. Um dia, mandei-os embora, aos berros, e não há mais ninguém no meu parquinho. Por que eu ficaria aqui, sozinho? Talvez aqueles dias voltem, como antes.
Hoje vai chover, mas eu não saí de casa. Passei café, ouvi os trovões, vi a água despencar do céu e levar tudo embora em seus braços. Sobrou o gramado verde, a campina vasta onde correm os cervos e cresce a amoreira. Como antes, sinto o cheiro do pólen e do verão e dos dias quentes. Quando o sol se pôs, de repente eu quis balançar até o alto e tocar os pés nas nuvens douradas penduradas no céu, mas meu café esfriou e eu não tenho mais nada para fazer aqui.