Papai Noel já é um velho conhecido, aquele gracioso senhor de bochechas rosadas que sempre está sorridente, carregando presentes consigo. Porém existe outro senhor, ou melhor, ser, que sobrevoa as noites de Natal.
Seu nome é Krampus, um ser nada simpático de dentes afiados e uma língua pontiaguda, formando um horrível sorriso. Sua pele enrugada é coberta de pelos escuros e sujos, somente contrastado pelo branco de seus chifres e cascos. Normalmente, ele é esqueleticamente magro, sofrendo de muita fome, mas uma vez por ano, na noite de Natal seu aspecto muda, quando ele sai para se alimentar.
Suas vítimas? Crianças muito especiais, com sabores únicos, mas extremamente conhecidos, já que todo ano ele escolhe sete velhos sabores familiares.
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O primeiro lá, aquele lá. Ela eu irei devorar.
Pequenos animais ele gosta de espetar.
Com uma faca a cortar.
Agora o sangue do animal está a espirrar.
O pirralho malvado eu espeto e carrego.
Dentro de meu cesto o aconchego.
Pirralho odiável e irado, tão malvado.
Será um dos temperos especiais do meu caldo.
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Também teve aquele, como mesmo a história terminou?
O mais novo os estudos começou.
Muitos anos, seu irmão trabalhou.
Mas o irmãozinho só estudou.
Os ciúmes e inveja do mais velho o tomaram.
E assim os dias de seu irmão mais novo terminaram.
Foi sangue espirrado, com ele esquartejado.
Esse mal me aguentei para por no prato.
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E aquele outro, tão riquinho, azedinho.
Esnobava todo mundo, desde tão pequenininho.
Ele era nojentinho, todo convencidinho.
Eu o encontrei e com seu sangue me lambuzei.
Como um fino tempero, eu o usei.
De dor ele gemeu, mas de felicidade eu gritei.
O amargor de seu fim me dará o banquete de um rei.
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E aquela menina, toda encardidinha.
A pobrezinha, tão magrinha.
Esfomeada e usada, como empregada.
Para arrumar uma casa que nunca lhe seria dada.
A tentação ela não resistiu, e um vestido lindo lhe sorriu.
Mas o vestido ela rasgou, seu jamais seria, nem se importou.
Isso é muito feio, o vestido estragou.
Pelo menos seu gosto mais forte ficou.
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E aquela abestalhada que comeu a comida que estragou.
Para não comer, sua mãe avisou.
Mas para o aviso ela nem sequer ligou.
Em seu quarto, ela se refugiou, e vomitou.
Pobrezinha, mal pode me ver lá.
Quando a levantei, mal saiu um “AH”.
E em meu cesto agora, ela está.
Culpa eu não tenho, quem mandou ser levada?
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A pirralha está muito cansada sim.
Mas motivo ela não tem. Apenas é refém.
A preguiça a pega e presa a mantém.
Nenhuma força de vontade ela tem.
É assim que os preguiçosos vão morrer. Por falta de crer.
Porque ela não rezou, depois que jantou.
Imperdoável, totalmente condenável.
Depois de vir para o meu prato, ela irá para o inferno, isso é inegável.
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Com aquele menino farei minha última refeição.
Ele é um ladrão, uma aberração.
Ele pegas moedinhas que encontra no chão.
Nem se preocupa de quem elas são.
Em um canto escuro eu o encurralei.
E todos os seus fios de cabelo um por um, eu roubei.
Minha sobremesa, que beleza.
Mais um que vai para minha mesa.
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Então cuidado, crianças.
Não adianta manter suas esperanças.
Pois eu sei quem foi bonzinho.
E quem será mais uma parte do meu pratinho.
Eu tenho uma lista, e eu confio nela.
Então tome cuidado com o que te observa pela janela.
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– Nossa, mamãe, essa cantiga é muito feia. Como assim pegar moedas assim é ser um ladrão? – pergunta o menino.
– É só uma cantiga velha, filho, uma que sua vó, quando eu tinha sua idade me ensinou. Ela serve para lembrar para que as crianças sejam boazinhas – respondeu sua mãe com um tom nostálgico.
– E eu fui bonzinho, mamãe? Vai ser o Papai Noel que virá, certo? – perguntou a criança com uma ansiedade crescente.
– É claro que você foi, filho, mas agora vamos dormir, que nosso dia de Natal já foi longo o suficiente. Boa noite, meu querido.
– Boa noite, mamãe, até amanhã – falou o filho vendo um vulto na janela.