A velha cantiga de Krampus
Ursão
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 13/12/21 17:10
Avaliação: 8.13
Tempo de Leitura: 4min a 5min
Apreciadores: 4
Comentários: 4
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Palavras: 675
Este texto foi escrito para o concurso "Terror Natalino" Neste Natal, o Papai Noel sumiu e o Jack é o menor dos problemas. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de doze anos
Notas de Cabeçalho

Incentivado pela minha maravilhosa e linda namorada, escrevi esse texto pro concurso, que também é o meu primeiro texto pra AC. Também fica a dica de procurar mais sobre a história original do Krampus, é uma lenda extremamente interessante e que eu não consegui fazer jus a sua importância. Espero que tenha ficado legal, boa leitura.

Capítulo Único A velha cantiga de Krampus

Papai Noel já é um velho conhecido, aquele gracioso senhor de bochechas rosadas que sempre está sorridente, carregando presentes consigo. Porém existe outro senhor, ou melhor, ser, que sobrevoa as noites de Natal.

Seu nome é Krampus, um ser nada simpático de dentes afiados e uma língua pontiaguda, formando um horrível sorriso. Sua pele enrugada é coberta de pelos escuros e sujos, somente contrastado pelo branco de seus chifres e cascos. Normalmente, ele é esqueleticamente magro, sofrendo de muita fome, mas uma vez por ano, na noite de Natal seu aspecto muda, quando ele sai para se alimentar.

Suas vítimas? Crianças muito especiais, com sabores únicos, mas extremamente conhecidos, já que todo ano ele escolhe sete velhos sabores familiares.

*

*

*

O primeiro lá, aquele lá. Ela eu irei devorar.

Pequenos animais ele gosta de espetar.

Com uma faca a cortar.

Agora o sangue do animal está a espirrar.

O pirralho malvado eu espeto e carrego.

Dentro de meu cesto o aconchego.

Pirralho odiável e irado, tão malvado.

Será um dos temperos especiais do meu caldo.

~

Também teve aquele, como mesmo a história terminou?

O mais novo os estudos começou.

Muitos anos, seu irmão trabalhou.

Mas o irmãozinho só estudou.

Os ciúmes e inveja do mais velho o tomaram.

E assim os dias de seu irmão mais novo terminaram.

Foi sangue espirrado, com ele esquartejado.

Esse mal me aguentei para por no prato.

~

E aquele outro, tão riquinho, azedinho.

Esnobava todo mundo, desde tão pequenininho.

Ele era nojentinho, todo convencidinho.

Eu o encontrei e com seu sangue me lambuzei.

Como um fino tempero, eu o usei.

De dor ele gemeu, mas de felicidade eu gritei.

O amargor de seu fim me dará o banquete de um rei.

~

E aquela menina, toda encardidinha.

A pobrezinha, tão magrinha.

Esfomeada e usada, como empregada.

Para arrumar uma casa que nunca lhe seria dada.

A tentação ela não resistiu, e um vestido lindo lhe sorriu.

Mas o vestido ela rasgou, seu jamais seria, nem se importou.

Isso é muito feio, o vestido estragou.

Pelo menos seu gosto mais forte ficou.

~

E aquela abestalhada que comeu a comida que estragou.

Para não comer, sua mãe avisou.

Mas para o aviso ela nem sequer ligou.

Em seu quarto, ela se refugiou, e vomitou.

Pobrezinha, mal pode me ver lá.

Quando a levantei, mal saiu um “AH”.

E em meu cesto agora, ela está.

Culpa eu não tenho, quem mandou ser levada?

~

A pirralha está muito cansada sim.

Mas motivo ela não tem. Apenas é refém.

A preguiça a pega e presa a mantém.

Nenhuma força de vontade ela tem.

É assim que os preguiçosos vão morrer. Por falta de crer.

Porque ela não rezou, depois que jantou.

Imperdoável, totalmente condenável.

Depois de vir para o meu prato, ela irá para o inferno, isso é inegável.

~

Com aquele menino farei minha última refeição.

Ele é um ladrão, uma aberração.

Ele pegas moedinhas que encontra no chão.

Nem se preocupa de quem elas são.

Em um canto escuro eu o encurralei.

E todos os seus fios de cabelo um por um, eu roubei.

Minha sobremesa, que beleza.

Mais um que vai para minha mesa.

~

Então cuidado, crianças.

Não adianta manter suas esperanças.

Pois eu sei quem foi bonzinho.

E quem será mais uma parte do meu pratinho.

Eu tenho uma lista, e eu confio nela.

Então tome cuidado com o que te observa pela janela.

*

*

*

– Nossa, mamãe, essa cantiga é muito feia. Como assim pegar moedas assim é ser um ladrão? – pergunta o menino.

– É só uma cantiga velha, filho, uma que sua vó, quando eu tinha sua idade me ensinou. Ela serve para lembrar para que as crianças sejam boazinhas – respondeu sua mãe com um tom nostálgico.

– E eu fui bonzinho, mamãe? Vai ser o Papai Noel que virá, certo? – perguntou a criança com uma ansiedade crescente.

– É claro que você foi, filho, mas agora vamos dormir, que nosso dia de Natal já foi longo o suficiente. Boa noite, meu querido.

– Boa noite, mamãe, até amanhã – falou o filho vendo um vulto na janela.

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Postado 11/10/22 19:23

Coisinha mais fofinha do mundo inteiro, um texto desses!

Adorei todas essas rimas, ainda mais que elas estão cheias de vítimas hahahaha

Obrigada por ter escrito esse conto, meu bem <3

Ficou realmente ótimo e eu amei, igual amo você <3

P.S. o primeiro menino era o que mais merecia morrer u.u

Postado 13/12/21 18:44

Puts, passei a vida toda sendo uma preguiçosa de marca maior... Não vai ter jeito, o tal Krampus vai passar pela minha janela no natal.

Postado 24/12/21 00:23

Pode parecer loucura, porém foi a primeira vez que li acerca de Krampus e seus feitos. Não sou uma pessoa muito antenada em superstições/histórias natalinas, principalmente por conta de como essa data é vista popularmente e o significado religioso por trás dela (que não me contempla). Portanto, ler sua obra foi uma oportunidade de conhecer acerca deste personagem macabro.

Sua obra é interessante, principalmente por conta da estruturação da narrativa. Nem sempre e nem todos conseguem mesclar a arte poética com a arte narrativa, porém você casou ambas muito bem, dando sentido e estrutura para o texto. A parte descritiva e inicial, assim como os diálogos no fim, servem para descrever o personagem e a vinda do mesmo. Já a cantiga nos revela as diversas atrocidades que ele comete com suas vítimas, nos revelando uma figura, de fato, assustadora.

Para além disso, seu texto está muito bem escrito, mas as pontuações que serviram de divisória (creio eu) deixaram as coisas um pouco confusas. O aspecto criativo foi demasiadamente afetado por ter sido baseado em algo real (destaco aqui que não foi apenas seu texto que teve pontos reduzidos por conta desse motivo específico), assim como a compatibilidade (pois há, sim, horror e um Papai Noel diferenciado, mas os aspectos natalinos ficaram apenas como pano de fundo, dando margem para uma sinfonia assustadora do Krampus e suas atrocidades, ou seja, o terror é o protagonista principal). Por fim (e aqui ressalto que é o meu ponto de vista e algo particular meu), não sou muito chegada em lendas que induzem a criança a obedecer por medo para ser recompensada em seguida (meu espírito de educadora que teve muitas aulas de educação parental me impede de compactuar com isso kkkkk). Portanto, do meu lado, isso afetou um pouco no gosto pessoal, porém não tanto, pois, como eu disse no começo do comentário, foi uma leitura excelente para conhecer mais sobre esse tipo de superstição natalina invertida.

É com muita satisfação (e com um olho na janela e outro no computador, nunca se sabe quando Krampus vai surgir) que agradecemos sua participação em nosso concurso! Muitos cenários hediondos foram desbravados através desta proposta, porém, o seu em particular, trouxe à tona uma história muito disseminada popularmente com uma escrita cativante, cantante e arrepiante! Queremos e esperamos vê-lo participando dos posteriores concursos que estamos elaborando.

Aproveito para dar as boas-vindas ao senhor a este antro maldito. Que você faça bons amigos, ótimas leituras e que o Krampus nunca venha visitá-lo no Natal.

Obrigada por compartilhar conosco.

Parabéns, moço ♥

Postado 14/10/22 15:18

Krampus certamente é um dos meus personagens favoritos do Natal. Vamos combinar que ele é a melhor entidade dessa data festiva. Quem é o Noel na fila do pão?!

Concordo com o que a Sabrina falou a respeito das pontuações. Da próxima, tenta ajustar melhor esse aspecto.

A obra em si é muito boa e tem potencial.

Parabéns